Trilhas em montanhas não são 100% perigosas, mas caminhar numa beirada de abismo cansado e com pouca visibilidade – especialmente nos trechos mais desafiadores – eleva a sensação de perigo ou a classificação de risco do lugar.
A trilha no vulcão do Monte Rinjani, na Indonésia, onde a montanhista Juliana Marins se acidentou e morreu, é um lugar com as condições do terreno razoavelmente difíceis, neblina intensa e variações rápidas de temperatura, condições que prejudicaram e muito a brasileira.
Sim, as condições climáticas são um fator que agrega perigo, mas, independentemente de como ela tenha caído, o grupo não poderia tê-la deixado para trás. É uma regra básica do esporte.
Ainda não dá pra saber exatamente porque ela estava sozinha na hora da queda após o escorregão. Mas quem acompanha montanhismo ou lê sobre o tema, em livros como “No Ar Rarefeito” e “Sobre homens e montanhas” do jornalista Jon Krakauer, sabe que o esporte exige companheirismo de grupo.
Existem lugares onde pode haver desequilíbrio, cansaço extremo e tontura diante das condições, especialmente no frio extremo que faz nas montanhas à medida que o sol se põe.
Há um erro da equipe que estava com Juliana Marins, mas também da infraestrutura do país asiático. Como país que recebe esse tipo de turismo, a Indonésia é obrigada a ter grupos e estruturas próximas aos locais de aventura para realizar eventuais resgates, e salvamentos em geral.
Qualquer pessoa pode torcer um pé numa trilha como aquela, um acidente muito menos grave mas que exige uma complexidade de fatores para retirar o montanhista do local.
Em casos graves de Juliana Marins, o uso da tecnologia, equipamentos como drones, são fundamentais para salvar vidas e saber a real condição do acidentado. O drone poderia levar alimentos e cobertores para Juliana para evitar que ela tentasse se movimentar machucada, totalmente sem forças e até desorientada.
A percepção de especialistas ouvidos pela coluna é o que Jon Krakauer descreve com muito conhecimento em seus livros. Juliana, por não ter tido um atendimento rápido – em outras palavras pela negligência da equipe de resgate e do governo indonésio – viveu alucinações.
As alucinações na altitude acontecem pelo frio extremo, fome e cansaço. Por isso, ela pode ter se movido e caído em uma fenda mais profunda num segundo momento, algo que era evitável se houvesse um trabalho profissional, tanto da equipe que a acompanhava na trilha como de especialistas em salvamento de pessoas em condições extremas.
Juliana é uma vida perdida, mas poderia ter sido salva. Com regras e profissionalismo.