Poucos dias depois de a União Europeia advertir que pode reimpor sanções contra o Irã caso negociações sobre o programa nuclear do país não avancem até 29 de agosto, Teerã anunciou, nesta segunda-feira, 21, que se reunirá com representantes de França, Alemanha e Reino Unido na próxima sexta-feira, em Istambul.
“O encontro entre Irã, Reino Unido, França e Alemanha ocorrerá em nível de vice-ministros das Relações Exteriores”, disse Esmaeil Baghaei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano.
As negociações programadas seguem a primeira ligação telefônica entre chanceleres dos três países europeus na quinta-feira com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, desde que Israel e os EUA atacaram as instalações nucleares iranianas há um mês.
Os três países europeus, juntamente com China e Rússia, são as partes restantes de um acordo nuclear de 2015 firmado com o Irã — do qual os Estados Unidos se retiraram unilateralmente sob Donald Trump em 2018 — que suspendeu as sanções ao país do Oriente Médio em troca de restrições ao seu programa nuclear.
Durante as últimas semanas, a Europa vinha sendo jogada de escanteio nas discussões nucleares com Teerã, lideradas pelos Estados Unidos. As tratativas comandadas pelo governo de Donald Trump, no entanto, estagnaram após o ataque americano a três instalações nucleares iranianas — Fordow, Natanz e Isfahan, que foram “gravemente danificadas” pelos bombardeios, de acordo com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei — em 22 de junho.
No início deste mês, o Pentágono anunciou que os ataques contra o Irã atrasaram o programa nuclear do país em cerca de dois anos. Em reflexo, a movimentação de Washington no tabuleiro belicoso rompeu com qualquer chance de diálogo com Teerã. Após a ofensiva aérea, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, disse que os EUA “torpedearam a democracia”. O alerta dos países europeus funciona, então, como uma tentativa da UE de assumir o protagonismo nas negociações.
Mecanismo snapback
França, Reino Unido e França têm até 18 de outubro para reimpor as sanções através do mecanismo snapback, previsto na resolução da ONU que ratificou o pacto nuclear de 2015, do qual Trump saiu no primeiro mandato. A maneira como o acordo foi negociado não permite que outros membros do Conselho de Segurança, como Rússia e China, vetem a decisão. A bola está no campo da Europa.
Em declarações recentes, Araghchi afirmou que ativação do snapback “significará o fim do papel da Europa na questão nuclear iraniana e pode ser o ponto mais sombrio na história das relações do Irã com os três países europeus, um ponto que pode nunca ser reparado”, acrescentando que “marcaria o fim do papel da Europa como mediadora entre o Irã e os EUA”.
“Um dos grandes erros dos europeus é pensar que a ferramenta de ‘snapback’ em suas mãos lhes dá o poder de agir na questão nuclear iraniana, embora essa seja uma percepção completamente equivocada. Se esses países avançarem em direção ao ‘snapback’, tornarão a resolução da questão nuclear iraniana ainda mais complicada e difícil”, frisou ele.