O governo do Irã afirmou nesta terça-feira, 30, que buscará dialogar com comerciantes que fecharam suas lojas desde o fim de semana em protesto à queda da moeda nacional, o rial, e ao aumento da inflação, que disparou para 42.2% em comparação a dezembro do ano passado. Em declaração divulgada à imprensa estatal, a porta-voz Fatemeh Mohajerani disse que Teerã reconheceu “oficialmente os protestos”.
“Ouvimos as suas vozes e sabemos que estes protestos têm origem numa pressão natural resultante da pressão sobre os meios de subsistência das pessoas”, acrescentou ela.
Na véspera, o presidente Masoud Pezeshkian já havia usado as redes sociais para sinalizar que ouviria as demandas da população. No X, antigo Twitter, ele escreveu que o bem-estar dos iranianos é sua “preocupação diária” e que tem “ações fundamentais na agenda para reformar o sistema monetário e bancário e preservar o poder de compra do povo”.
“Incumbi o Ministro do Interior de ouvir as reivindicações legítimas dos manifestantes por meio do diálogo com seus representantes, para que o governo possa agir com todas as suas forças para resolver os problemas e responder de forma responsável”, informou Pezeshkian.
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Entenda os protestos
Os atos tiveram início ainda no domingo 28 e se estenderam para segunda 29 em várias áreas da capital iraniana, Teerã. Segundo a emissora catari Al Jazeera, os manifestantes foram recebidos por agentes antimotim totalmente equipados, que lançaram gás lacrimogêneo contra a multidão para dispersá-la. Apesar da pressão, os comerciantes continuaram a apelar para que outras pessoas aderissem ao protesto.
A agência de notícias francesa AFP apontou que alguns lojistas, principalmente vendedores de eletrônicos dependentes de importações, passaram a vender produtos online e suspenderam as vendas presenciais temporariamente. A ideia é permitir que os preços sejam ajustados conforme a variação da taxa de câmbio.
A progressiva desvalorização do rial faz parte de uma crise econômica mais ampla enfrentada pelo país, reflexo das sanções ocidentais. A moeda atingiu uma mínima histórica na segunda, em cerca de 1.390.000 rial por dólar americano, mostraram sites de monitoramento. Não é primeira vez que o governo iraniano tem de lidar com protestos em massa. Em 2022, a população foi às ruas em todo o Irã contra o aumento dos preços de produtos básicos, como o pão.
Os meios de comunicação estatais, por sua vez, disseram que a greve dos comerciantes está voltada apenas às condições econômicas e não têm qualquer relação com o regime islâmico teocrático, que comanda o país desde a revolução de 1979, quando o xá Mohammad Reza Pahlavi, apoiado pelos Estados Unidos, foi deposto. Em 2023, contudo, milhares de pessoas protestaram em resposta à morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia da polícia da moralidade. Ela supostamente havia violado a lei sobre o uso do véu islâmico.