O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, recebeu na quarta-feira, 17, uma medalha que o proclama “Arquiteto da Paz”, um prêmio até então desconhecido e concedido por entidades alinhadas ao regime, durante uma cerimônia que marcou os 195 anos da morte de Simón Bolívar, em Caracas. A cerimônia ocorreu poucos dias depois da líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, viajar a Oslo, capital da Noruega, para receber o prêmio Nobel da Paz de 2025.
A condecoração foi aprovada por unanimidade pelas diretorias da Sociedade Bolivariana da Venezuela e da Sociedade Bolivariana de Caracas, que descreveram Maduro como um “caraquenho exemplar” e “lutador”. Ao entregar a medalha, uma representante das entidades afirmou que o líder chavista seria responsável por garantir a paz não apenas da Venezuela, mas também da América Latina e do mundo. Em discurso, Maduro comemorou o reconhecimento e disse que a paz seria sua maior conquista política.
“A paz será meu porto, minha glória e nossa vitória permanente”, declarou em tom grandiloquente.
Além do prêmio, ele foi nomeado presidente honorário da Sociedade Bolivariana da Venezuela em reconhecimento pela sua “entrega total ao país”, como definiram os organizadores. Maduro apontou que receber o título na sede histórica da entidade, próxima à casa onde nasceu Simón Bolívar, representava um “grande compromisso”. A láurea foi entregue em meio à escalada das tensões entre Caracas e Washington, que recentemente declarou bloqueio total aos petroleiros que entrem em saiam do território venezuelano.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve realizar uma reunião de emergência na próxima terça-feira, 23, para discutir a escalada das hostilidades entre os dois países. Em carta enviada ao órgão, o governo da Venezuela classificou as ações americanas como uma “agressão em curso” e pediu a convocação urgente da sessão, com apoio de China e Rússia.
+ Maduro arranha o inglês em mensagem de Natal aos americanos: ‘Sejam felizes!’
Tensão no Caribe
No final de outubro, Trump revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar Maduro. Fontes próximas à Casa Branca afirmam que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas — como pistas de pouso — sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.
Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles — designado como organização terrorista estrangeira em novembro — e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do chefe do regime chavista. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também foi acusado por Trump de ser “líder do tráfico de drogas” e “bandido”. Em paralelo, intensificam-se os ataques a barcos de Organizações Terroristas Designadas, como define o governo americano, no Caribe e no Pacífico. Ao menos 83 tripulantes foram mortos.
Há poucas semanas, militares americanos de alto escalão apresentaram opções de operações contra Caracas a Trump. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e outros oficiais entregaram planos atualizados, que incluíam ataques por terra. Segundo a emissora CBS News, a comunidade de Inteligência dos EUA contribuiu com o fornecimento de informações para as possíveis ofensivas na Venezuela, que variam em intensidade.
O planejamento militar ocorre em meio à crescente mobilização militar americana na América Latina e ao aumento das expectativas de uma possível ampliação das operações na região, em atos considerados “execuções extrajudiciais” pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além do porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram despachados para o Caribe, enquanto Trump intensifica o jogo de quem pisca primeiro com o governo venezuelano.
Os incidentes geraram alarme entre alguns juristas e legisladores democratas, que denunciaram os casos como violações do direito internacional. Em contrapartida, Trump argumentou que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que torna os ataques legítimos. Autoridades afirmaram ainda que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender os tripulantes e apreender as cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos em direção ao país.
Dados das Nações Unidas enfraquecem o discurso de caça às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil — principal responsável pelas overdoses nos EUA — tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou do contrabando do opioide para o país. O documento também aponta que as drogas mais usadas pelos americanos não têm origem na Venezuela — a cocaína, por exemplo, é consumida por cerca de 2% da população e vem majoritariamente de Colômbia, Bolívia e Peru.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na última sexta-feira 14 revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos para matar suspeitos de narcotráfico, sem o devido processo judicial, uma crítica às ações de Trump. Em um sinal de divisão entre os apoiadores do presidente, 27% dos republicanos entrevistados se opuseram à prática, enquanto 58% a apoiaram e o restante não tinha opinião formada. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações, e 10% a favor.