O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se encontrou com seu homólogo na França, Emmanuel Macron, nesta segunda-feira, 17, para assinar um acordo que prevê a compra de 100 caças do modelo Rafale por parte de Kiev nos próximos 10 anos. A medida é uma tentativa de fortalecer a capacidade militar ucraniana a longo prazo, enquanto o país tenta resistir à invasão da Rússia.
“Novas aeronaves, novos reforços, novas medidas para fortalecer nosso exército e nosso país. Sou profundamente grato à França, ao presidente Emmanuel Macron e a todo o povo francês”, agradeceu Zelensky em uma publicação no X (ex-Twitter). O mandatário comemorou a assinatura da Declaração de Intenções sobre Cooperação na Aquisição de Equipamentos de Defesa para a Ucrânia, que também prevê a aquisição de sistemas de defesa aérea SAMP/T, radares de defesa aérea, mísseis ar-ar e bombas aéreas.
Today marks a significant moment, truly historic for both our nations – France and Ukraine. Together with Emmanuel Macron, we signed a Declaration of Intent on Cooperation in the Acquisition of Defense Equipment for Ukraine. This document enables Ukraine to procure military… pic.twitter.com/0qzG41IsnP
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) November 17, 2025
Essa é a mais recente negociação promovida por Zelensky visando fortalecer a força aérea ucraniana. No mês de outubro, Kiev já havia anunciado um negócio para aquisição de até 150 caças suecos do tipo Gripen, iguais aos usados pelo Brasil. Em ambos os casos, não houve divulgação de valores ou condições. A movimentação deixa claro o objetivo ucraniano de transformar sua Força Aérea em “uma das maiores do mundo”, como define o próprio presidente, uma dissuasão que o país vê necessária diante de um vizinho tão agressivo a leste.
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Acerto de duas vias
O acordo entre Kiev e Paris é um sinal claro de como as potências europeias assumiram o papel de principal fornecedor de ajuda militar à Ucrânia, substituindo os Estados Unidos após a guinada contrária do presidente Donald Trump. “100 Rafaeles. Isso é muita coisa. É isso que é necessário para a regeneração do Exército ucraniano”, declarou Macron a repórteres.
O presidente francês também afirmou que o acordo é uma boa notícia para a fabricante de aviões francesa Dassault. Antes do conflito, a companhia vinha tendo dificuldade para comercializar modelos Rafale com compradores estrangeiros. No entanto, o custo operacional de suas aeronaves, com hora-voo estimada em R$ 185 mil, faz com que consigam superar equipamentos como o F-35 americano. Nesta manhã, as ações da Dassault subiram 7,4%.
Segundo o Palácio do Eliseu, a declaração não é um acordo de compra — que deverá ser fechado posteriormente —, mas sim um compromisso político. O fornecimento de equipamentos seria financiado por meio de ativos russos congelados e de programas da União Europeia — algo com o que o bloco ainda não concordou. Caso as 100 aeronaves sejam adquiridas pela Ucrânia, o país será o segundo maior operador de tais jatos no mundo, atrás somente da França.
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Apoio europeu
Mesmo com sinais positivos, a negociação mira não o curto prazo, mas o longo. Mesmo após a aquisição, a necessidade de um rigoroso programa de treinamento fará com que Kiev leve tempo para tornar os aviões operacionais. Enquanto isso, a Ucrânia reforça sua frota com caças dos modelos Mirage-2000, doados por Paris, e F-36, aviões americanos adquiridos por meio de um consórcio de países europeus.
Antes do conflito, a frota ucraniana contava apenas com antigos caças soviéticos MiG-29 e Su-26, além de modelos de ataque ao solo Su-25 e bombardeiros Su-24. Kiev perdeu grande parte desses equipamentos durante o conflito e contou com o apoio de países como Polônia e Eslováquia para repor seu arsenal.
Há uma pressão por parte de potências europeias, como França e Reino Unido, para que a Ucrânia receba soldados e recursos assim que um acordo de paz com a Rússia for acertado. As nações vêm pressionando por uma coalizão com 30 países dispostos a garantir que Kiev tenha auxílio militar suficiente para dissuadir qualquer ofensiva russa no longo prazo.
Embora imersa em instabilidade política e orçamentária, Paris assumiu protagonismo na ajuda militar à Ucrânia. Anteriormente, Macron havia oferecido mais caças Mirage-200 a Kiev, além de um lote de mísseis terra-ar Aster 30. Zelensky segue em Paris após a assinatura do acordo, onde se encontrará com representantes de empresas de drones francesas e ucranianas nesta tarde. O fórum deve abrir discussões sobre parcerias futuras.
A movimentação acontece em um momento delicado no front ucraniano, com relatos de avanço das tropas russas sobre o sudeste da região de Zaporizhzhia e na estratégica cidade de Povrovsk, em Donetsk, sitiada por Moscou. O cerco forçou os ucranianos a deslocarem recursos de outros pontos para manterem sua posição. Além disso, a Rússia segue lançando pesados ataques aéreos contra todo o território ucraniano.