A Tailândia anunciou nesta segunda-feira, 10, a suspensão do acordo de paz o Camboja — mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — após a explosão de uma mina terrestre na divisa entre os dois países deixar soldados tailandeses feridos. O tratado foi firmado em 28 de julho depois de telefonemas de Trump com os líderes de ambas as nações. Naquele mês, Bangkok e Phnom Penh mergulharam em um conflito transfronteiriço de cinco dias, com dezenas de vítimas e mais de 200 mil deslocados.
Depois do sinal verde dos lados do confronto, o acordo de paz foi assinado na Malásia no final de outubro. O republicano, inclusive, marcou presença na cerimônia. Mas a bonança parece ter acabado. A explosão feriu quatro soldados da Tailândia — um deles teve a perna decepada, ao passo que outros sofreram ferimentos causados por estilhaços — na província tailandesa de Sisaket, situada na fronteira.
O incidente teve palco enquanto as tropas conduziam uma “patrulha de rotina ao longo de uma rota frequentemente utilizada”, informou Winthai Suvaree, porta-voz do Exército Real Tailandês. Em reflexo, o comandante supremo das Forças Armadas tailandesas, Ukris Boontanondha, afirmou que estava “suspendendo todos os acordos até que o Camboja demonstre de forma clara e sincera que não será ‘hostil’”, referindo-se ao episódio na mina. A decisão foi apoiada pelo primeiro-ministro Anutin Charnvirakul.
“Tudo precisa parar”, disse o premiê na sede da Polícia Real Tailandesa “Tudo o que vínhamos implementando até então, neste momento, deve ser considerado suspenso até que haja clareza.”
“O que aconteceu significa que a hostilidade que pensávamos que diminuiria em relação à ameaça à segurança nacional não diminuiu. Como não diminuiu, não podemos prosseguir com nada além disso”, acrescentou ele.
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Hostilidade histórica
A Tailândia acusou o Camboja de instalar novas minas terrestres após a remoção de uma cerca de arame farpado, o que foi descoberto no início deste mês. Winthai destacou que a retirada do alambrado “viola a declaração conjunta assinada e inevitavelmente afetará a posição da Tailândia e vários acordos”. O Camboja, por sua vez, negou “categoricamente as alegações” e disse que está “gravemente preocupado” com a decisão tailandesa de romper o acordo.
“A maioria dos campos minados, remanescentes de quase três décadas de guerras civis no Camboja, nas décadas de 1970 e 1980, ao longo da fronteira entre Camboja e Tailândia, ainda não foram removidos devido ao terreno acidentado e à falta de demarcação das áreas fronteiriças”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores do Camboja em comunicado.
Os dois países têm uma relação complexa há décadas, variando entre cooperação e hostilidade. Tailândia e Camboja compartilham uma extensa fronteira de 800 quilômetros, que foi definida pelos franceses quando Phnom Penh ainda era colônia. A divisa é palco frequente de disputas territoriais — uma questão não abordada pelo acordo de paz de Trump — e de combates.
O Camboja já solicitou anteriormente uma decisão do Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre as áreas disputadas. A Tailândia, contudo, não reconhece a jurisdição do tribunal e alega que a região nunca foi plenamente demarcada. O local da explosão desta segunda fica numa área próxima ao templo de Preah Vihear, no Camboja, um Patrimônio Mundial da Unesco. Por lá, já foram registrados vários confrontos militares.