Pouco mais de um mês após ter sua obra censurada em um festival em Itaipava, distrito de Petrópolis (RJ), Matheus Ribs, 31 anos, volta a expor “KilomboAldeya”, agora nas ruas do Rio. A arte será uma das 100 bandeiras que vão participar da Parada 7, cortejo artístico que sairá do MAM Rio em direção ao Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, neste domingo, 7. Depois, o trabalho ficará em exposição até 15 de novembro.
Para Ribs, devolver a obra ao espaço público é um gesto significativo diante do episódio ocorrido no Festival Sesc de Inverno, ainda mais pela data escolhida. “Enquanto o feriado cívico celebra a Independência do Brasil como um marco histórico de suposta emancipação, para a maioria de nós essa data é um momento de contestação, onde questionamos a versão oficial da independência e chamamos atenção para as exclusões e silenciamentos que ela produziu”, diz o artista à coluna GENTE, que recebeu o convite de César Oiticica e Evandro Salles após o ocorrido na Região Serrana do Rio.
A obra faz uma releitura da bandeira nacional, trocando o lema “Ordem e Progresso” por “KilomboAldeya”, uma referência a territórios indígenas e afro-brasileiras. “Levar KilomboAldeya às ruas, uma obra que ressignifica a bandeira nacional para evocar as populações e modos de vida historicamente excluídos do projeto oficial de Brasil, mas fundamentais na construção deste país, torna-se mais do que um gesto artístico: é um ato de reparação simbólica”, continua.
O episódio em Itaipava aconteceu no dia 26 de julho, quando o artista foi pego de surpresa ao saber que seu trabalho seria retirado da mostra, um dia após a montagem, sem seu consentimento. Segundo Matheus, a organização do evento não entrou em contato com ele desde então. “Ficou mais evidente que os temas que mobilizo em torno da minha pesquisa, ao contrário do que muitos pensam, não estão pacificados na sociedade. Ainda disputamos narrativas através da produção artística. Assuntos como questões raciais, direito à terra e colonialismo, ainda são urgentes nas nossas produções e discussões”.