A economia brasileira voltou a crescer entre abril e junho, mas em ritmo mais lento. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,4% no segundo trimestre de 2025 em relação aos três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 2. O resultado superou ligeiramente as projeções do mercado, mas trouxe sinais claros de enfraquecimento da atividade econômica — com destaque para a primeira queda dos investimentos em quase dois anos. Analistas apontam para a relativa resiliência da economia, mas são unânimes na avaliação de que a desaceleração deve seguir. Nesse sentido, a taxa Selic está funcionando como freio da atividade.
“O comportamento robusto do Consumo das Famílias em 2025 apaga a queda verificada no último trimestre de 2024 e acumula nos quatro trimestres alta de 3,4%”, diz o economista André Perfeito, evidenciando um dos fatores que mantêm a roda da economia girando. Ele chamou atenção, porém, para a retração dos investimentos: “A Formação Bruta de Capital Fixo (o investimento) recuou 2,2%, primeira queda depois de ter subido nos últimos 6 trimestres”. A situação dos investimentos é um tanto delicada e decorre, em alguma medida, da alta da taxa Selic — hoje fixada em 15% ao ano –, segundo Perfeito.
Já é possível observar a ação da Selic sob o crescimento econômico. “Reduz o apetite por investimentos e consumo financiado”, diz Volnei Eyng, CEO da Multiplike. A taxa básica de juros está no maior patamar desde 2006. Como o efeito da alta dos juros não é imediato e, mesmo que haja uma redução pontual no médio prazo, eles seguirão elevados, a expectativa do mercado é pela continuidade da desaceleração da economia como consequência da Selic. “O quadro geral reforça a tendência de desaceleração da economia nos próximos trimestres.”, diz Rafael Perez, da Suno Research. O resultado geral um pouco abaixo das expectativas do mercado “confirma um cenário de desaceleração gradual” da economia, diz Arnaldo Lima, da Polo Investimentos.
O economista André Perfeito reforça que, apesar de ser uma boa notícia, o PIB acima das expectativas limita a perspectiva de corte de juros do Banco Central, contribuindo para uma Selic elevada. “Muito provavelmente o Comitê de Política Monetária do BC irá esperar sinais mais claros de desaceleração ou acomodação da atividade antes de iniciar qualquer ciclo de corte de juros”, diz. André Valério, economista sênior do banco Inter, concorda: “Esperamos que a política monetária mantenha o grau de aperto até se observar sinais mais claros de desaceleração”. A instituição financeira, no entanto, mantém sua expectativa de corte na Selic em dezembro.