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Aos 26 anos, empresário abre restaurante e critica burocracia do país

Aos 26 anos, Barnard Barzi já rodou o mundo, mas foi justamente no Brasil, onde nunca havia morado, que decidiu transformar ideias em negócios. O empresário ítalo-brasileiro escolheu Ipanema, um dos bairros mais caros do Rio de Janeiro, para abrir o Rocco: restaurante de mil metros quadrados que une influências da culinária brasileira e internacional em um conceito que define como “plural”. Inaugurado em junho deste ano, o projeto ousado nasceu de uma inquietação pessoal – a falta de um lugar para “comer, beber e se divertir com personalidade” – e ganhou forma mesmo diante de desafios de empreender em um país que ainda estava descobrindo. “A burocracia, sem dúvida, é um dos maiores obstáculos”, admite. À coluna GENTE, Barzi analisa os pontos positivos e negativos de empreender do zero no Brasil, reconhece privilégios, revela os obstáculos da política pública no país e reforça o negócio com identidade e não “para gringo ver”.

Abrir um restaurante grande em um país onde nunca morou não é arriscado? Sim – e por isso mesmo que me atraiu. Antes de vir, estudei o Brasil, mergulhei na cultura carioca e percebi uma oportunidade real de inovar. O risco foi calculado, mas a aposta foi emocional também. O Rio tem alma, energia e um potencial criativo enorme.

Entre todos os lugares por onde passou, qual mais influenciou o conceito do Rocco? E o que você decidiu deixar de fora? Lisboa me ensinou a unir tradição com modernidade. Roma me deu a estética e a disciplina. Londres me mostrou a importância da ousadia. A Califórnia me despertou para o lifestyle e a força da experiência sensorial. O que decidi deixar de fora foi a rigidez dos modelos prontos. O Rocco nasceu para ser autoral, livre e surpreendente.

Como responde à crítica de que o Rocco é “para gringo ver”? Com respeito, mas com clareza. O Rocco não foi feito para gringo, foi feito para quem valoriza qualidade, estética e experiência. Trabalhamos com ingredientes brasileiros, com talentos locais e valorizamos a cultura nacional. Fazemos isso com um olhar global, que, a meu ver, é como o mundo funciona hoje. E o público carioca entendeu isso muito bem.

Você se considera um privilegiado? E como essa consciência impacta seu trabalho como empreendedor? Sou privilegiado por ter tido acesso a boas formações, por ter viajado, conhecido outras culturas e aprendido com elas. Mas levo esse privilégio com responsabilidade. Trabalho desde os 13 anos, e tudo o que construí até aqui foi com esforço diário. Essa consciência me faz querer retribuir, abrir portas, empregar pessoas e criar negócios que gerem impacto positivo.

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Abrir um restaurante conceitual aos 26 anos exige capital. De onde veio o investimento? Veio da soma de tudo o que vivi até aqui. Tentei empreender na Califórnia, falhei e aprendi. Abri um restaurante em Lisboa, que se tornou um grande sucesso e me deu estrutura financeira e credibilidade. Mas, mais do que dinheiro, o investimento veio da minha capacidade de convencer as pessoas certas a acreditarem no projeto comigo.

Na sua opinião, o Estado brasileiro atrapalha ou ajuda quem quer empreender? A burocracia é, sem dúvida, um dos maiores obstáculos. Os processos são lentos, complexos e muitas vezes desestimulam quem quer fazer as coisas certas. Ao mesmo tempo, vejo um enorme espaço para inovação no Brasil. O país tem talento, matéria-prima e público. Falta incentivo, sim, mas não falta é oportunidade para quem sabe se adaptar.

O que mais te surpreendeu, positiva ou negativamente, ao abrir um negócio no Brasil? Negativamente, a dificuldade em lidar com prazos e licenças. É um ambiente em que você precisa estar muito atento e bem assessorado por bons profissionais. Positivamente, a criatividade dos brasileiros e a abertura para novas experiências. O público daqui é exigente, mas também curioso — o que é um prato cheio para quem quer inovar.

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Você sente falta de políticas públicas que incentivem a gastronomia como vetor de cultura e turismo? Com certeza. Falta uma política mais clara de incentivo, acesso a crédito e apoio institucional para quem está construindo experiências que representam o Brasil, dentro e fora do país.

O que te tira o sono hoje como empresário? A ambição de fazer mais. Tenho muitos planos e projetos em construção. O desafio constante de crescer, inovar e manter a excelência me tira o sono — mas no bom sentido. Prefiro perder o sono com ideias do que com arrependimentos.

Você se vê no Brasil por muito tempo? Ou o Rocco é só uma etapa de algo maior? Me vejo onde houver espaço para construir algo grandioso. O Brasil, hoje, é prioridade — mas penso globalmente. O Rocco é uma marca com potencial para crescer em outras cidades, em outros países. Não é uma estação de passagem, é uma fundação. E minha história está só começando.

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