É vasta sua coleção de personagens na TV, tendo vilões entre os mais marcantes. Mas Antônio Grassi, 71 anos, também coleciona passagens por gestões públicas em governos petistas: foi presidente da Funarte (2003-6), secretário de Cultura do governo do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Theatro Municipal do Rio (2000). Mais recentemente, foi diretor-presidente do Instituto Inhotim. Estava lá, inclusive, quando em 2019 houve o rompimento da barragem da Samarco em Brumadinho (MG), acidente que ceifou vidas e fez o parque-museu passar meses fechado. Convidado do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também na versão podcast no Spotify), Grassi analisa a atual gestão do Ministério da Cultura, sob comando de Margareth Menezes, e a compara a outro cantor-ministro, Gilberto Gil, da primeira gestão de Lula, de 2003, de quem anda afastado. No mesmo raciocínio, contrasta as gestões da pasta quando lá estiveram os atores Regina Duarte e Mario Frias no governo Bolsonaro. Equilibrando-se entre a vida política e a artística, como faz há décadas, Grassi, em breve, assume a empresa de Turismo e Cultura em Maricá, no norte-fluminense; e integrará o elenco de Samu, série médica da Globoplay dirigida por Andrucha Waddington e Cláudio Torres, os mesmos criadores da premiada Sob Pressão. Assista.
PRECONCEITO COM ARTISTAS POLÍTICOS. “Não dá para a gente negar que existe, às vezes, um certo preconceito, um certo pé atrás, quando um artista ocupa um espaço público, um espaço de gestão. A princípio, as pessoas acham que a carreira do artista está meio destinada a ser de um bobo da corte, o confeito do bolo, a alegria da trupe. Não se espera muito de um artista numa atuação, digamos, mais séria na gestão pública. Isso nos leva à necessidade de estar sempre surpreendendo as pessoas”.
GILBERTO GIL NO MINC. “Fomos para o primeiro governo Lula, em 2003, para o ministério da Cultura, capitaneados pelo Gilberto Gil, nome grandioso da nossa arte. Aquele foi um momento que esse tipo de relação ficou mais evidente. De que era possível que artistas se ocupassem também da formulação de políticas públicas, além do desempenho do seu ofício. Gilberto Gil foi um grande exemplo disso. E também nós todos, que estávamos naquela época, no primeiro mandato do presidente Lula”.
MARGARETH MENEZES NO MINC. “Margareth também segue essa mesma trilha. De um artista consagrado na sua área de atuação, que se ocupa agora com o ministério da Cultura. Embora os momentos sejam muito diferentes. Aquele momento do primeiro mandato do governo Lula veio de um processo, de uma transição democrática tranquila: a transição entre o governo Fernando Henrique e o governo Lula. Isso nos deu um cenário de atuação muito diferente de agora, do que a Margareth encontrou. Nós não tivemos sequer a passagem de faixa, de um presidente para o outro”.
GESTÃO BOLSONARO NA CULTURA. “O governo anterior tinha destruído o ministério da Cultura. Esse é um ponto importante. Porque cabe o desafio enorme, além da Margareth ter que desempenhar o seu papel como ministra, tem que reconstruir um ministério. Muitas vezes reconstruir algo que foi demolido é mais difícil. Acredito que daqui a pouco vamos ter uma situação mais estável em relação a essa reconstrução. E vai dar para avaliar melhor o trabalho da Margareth e sua equipe no ministério”.
LEI ROUANET. “Uma das coisas que foram bem sucedidas, digamos, na estratégia da direita foi a de colocar a Lei Rouanet como ‘um mal a ser combatido’, algo que é falso, que não é real. Primeiro, a Lei Rouanet não foi criada pela esquerda. A Lei Rouanet foi criada durante o governo Collor. Está muito longe de ser de um governo de esquerda. Sergio Paulo Rouanet, criador da lei, era secretário de cultura do governo Collor. E que também vem, é claro, da Lei Sarney. (…) Não é um dinheiro que o governo dá para os artistas realizarem projetos, como a gente ouve os governos da extrema direita apregoando por aí. Essa lei não tem recursos diretos na mão de artistas. A Lei Rouanet capacita os proponentes das atividades culturais a procurarem no mercado os seus patrocínios. Portanto, ela não é aquela coisa de ‘o governo está bancando tal artista’, não é isso”.
MAIS VILÃO QUE MOCINHO. “Existe uma certa simpatia pelos vilões. Fiz uma novela uma vez, que fez muito sucesso, Chocolate com Pimenta, em 2003, era um personagem viúvo, cuidava de duas filhas, se envolvia no jogo, perdia uma filha no jogo… Lembro que encontrei um dia com uma senhora que me falou: ‘não gosto não, viu?’. Eu respondi: ‘não gosta de quê? A senhora acha que não estou fazendo bem?’. ‘Não, você tem que fazer personagens mais malvados. Esses bonzinhos não estão com nada’. Achei curioso. Talvez a lembrança dos vilões seja maior do que a lembrança dos personagens mais simpáticos”.
Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.