Ana Cañas é daquelas artistas inquietas, que querem explodir nas mensagens pensadas para cada show. Por isso mesmo, a cada novo ciclo de apresentações, inova no repertório. Em Todes, em pleno auge da polarização política da eleição de 2018, apresentou um disco tão sensual quanto provocativo. Já resgatou canções de Belchior e mais recentemente, durante a 20ª edição do Cine OP, mostra de cinema de Ouro Preto (MG), visitou canções clássicas e potentes de Rita Lee. Convidada do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também na versão podcast no Spotify), Ana diz por que recusou convite do Psol para ser candidata a vereadora por São Paulo, se emociona ao recordar da avó que fugiu de duas guerras na Europa e como encara o cenário machista da MPB. Assista.
INSPIRAÇÃO EM RITA LEE. “Rita Lee nasceu para libertar as mulheres. Não tem como ouvir certas canções e não repensar a vida e não alargar o seu espectro de possibilidades. O grande legado da Rita, para além do bom humor e da inteligência, é a metafísica existencial desse pensamento quase filosófico de que, sim, você é mulher e você pode. Vai e faça. O bom e velho… desculpa o palavreado, mas foda-se, sabe? Porque todos sabemos das estruturas, dos cerceamentos, das opressões com as mulheres, né? Isso hoje, ainda bem que é muito falado, muito discutido, mas a prática disso, esse equilíbrio de forças e de oportunidades e de ocupar lugares de decisão e poder, a gente ainda está distante”.
TODES JUNTES. “Todes é um disco que tenho muito orgulho de ter feito, porque foi um momento de extrema militância minha, pessoal, de me jogar nos coletivos feministas, de conhecer outras realidades que não a minha. Nas quebradas em São Paulo, na periferia, embora eu tenha vivido boa parte da minha infância e adolescência do lado da favelinha da 19, na cidade do Utralá, que é um lugar em São Paulo que a minha avó morava, num conjunto habitacional. O disco é um retrato dessa fase. Eu namorava João Weiner, um maravilhoso documentarista e totalmente envolvido com o cinema. Ele que montou Elis e Tom, hoje é meu amigo. Estava naquela fase muito próxima do Lula e daquele corpo da esquerda, e fui para os fronts. O disco é um reflexo de defender o momento realmente afrontoso”.
CONVITE PARA VEREADORA. “Nem cogitei, imagina, vou te falar, o ambiente da política não é para mim. Não é para mim. Não tem a loucura, não tem o delírio do palco, não tem a transa do palco, não tem a libido da minha vida, está toda ali, entendeu? É no palco, é na música, é no som, é na transa com as pessoas, é no ouvido e no coração”.
ATO POLÍTICO. “Tudo é político, até a não-política é política. A arte é extremamente política no melhor dos sentidos, de libertar os espíritos. Viva a arte. Talvez a coisa mais política que exista seja a arte, no sentido de explodir as cabeças, de alargar os corações, de permitir que os espíritos vivam o que eles… você ser o que você é. Nada tem um poder maior do que a arte nisso, eu acho, sabe?”.
MPB MACHISTA. “A música é um espaço extremamente masculino ainda. Mas é uma coisa muito da realidade, inclusive do cinema também. O audiovisual ainda é muito masculino. Mas cá estamos. Juntando a Rita ali, dando a mão para todas elas e dando já a mão para as meninas que estão vindo aí também, que tenho certeza de que tem meninas aí de 10, de 15 que já estão pensando mil coisas como subverter essa lógica machista, essa opressão machista. E vamos em frente. Vou terminar dizendo, como dizia a Rita: ‘não vai ser do dia para a noite, mas vai ser’”.
Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.