Mais de mil policiais estão nas ruas no Rio para uma megaoperação contra o tráfico de animais silvestres. Na manhã desta terça-feira, 16, pelo menos 17 pessoas foram detidas a partir de investigações que duraram um ano sobre a maior organização criminosa do estado especializada nesse crime. A polícia descobriu que o grupo tem conexões com facções, inclusive de fora do estado, e que usava dessas relações para vender os animais em feiras clandestinas em áreas exploradas por traficantes de drogas. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, até o ex-deputado estadual TH Joias, acusado de tráfico internacional de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e fornecimento de armas ao Comando Vermelho, preso no último dia 3, está envolvido no esquema.
A operação batizada de São Francisco, coordenada pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) com apoio da Secretaria estadual do Ambiente e Sustentabilidade (Seas), já é considerada a maior do país no combate a esse comércio criminoso. Os agentes tentam cumprir nesta terça mais de 40 mandados de prisão e 270 de busca e apreensão na capital, Região Metropolitana, Baixada Fluminense, Região Serrana, Região dos Lagos e também em São Paulo e Minas Gerais. Pelo menos 145 criminosos foram identificados, e as investigações mostram que essa organização está presente em feiras há décadas e que também trafica armas e munições.

Núcleos de caçadores e primatas
A organização atua armarda e tem estrutura formada por núcleos com funções específicas. Um deles é o de caçadores: segundo a polícia, esses bandidos praticavam caça em larga escala em habitats naturais dos animais, que depois eram transportados de forma cruel pelo grupo de atravessadores. Estes faziam a entrega dos bichos para a comercialização. A caça de primatas conta com um núcleo próprio. Após capturados em áreas de mata como o Parque Nacional de Tijuca e o Horto, macacos eram mantidos dopados até serem vendidos. TH Joias teria comprado primadas pelo menos quatro vezes. Ele também seria uma ponte entre traficantes e compradores.
Um outro núcleo é o de falsificadores, que vendia anilhas, selos públicos, chips e documentos falsos usados para mascarar a origem ilícita dos animais. A polícia ainda qualificou consumidores finais que adquiriram animais silvestres de forma ilegal, fomentando essa cadeia.

A ação tem apoio das delegacias dos Departamentos-Gerais de Polícia Especializada (DGPE), da Capital (DGPC), da Baixada (DGPB) e do Interior (DGPI); da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Subsecretaria de Inteligência do Ministério Público, com colaboração do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Ibama. Em declaração divulgada pelo Palácio Guanabara, o governador Cláudio Castro (PL) disse que se trata de uma operação contra uma quadrilha que, “além de destruir a nossa fauna e ameaçar a biodiversidade, também alimentava a violência com a venda de armamento pesado”.
Na Cidade da Polícia, foi montada uma base para onde os animais estão sendo encaminhados, recebendo no local atendimento veterinário. Em seguida, eles serão avaliados por peritos criminais e levados para centros de triagem. O objetivo é reintroduzi-los na natureza.