A China conduziu nesta terça-feira, 30, o segundo dia de exercícios militares em larga escala ao redor de Taiwan, ilha que considera parte do seu território, como parte da chamada “Missão Justiça 2025”. Destróires e caças foram enviados para as águas ao norte e ao sul da pequena nação insular, que definiu o governo chinês como “o maior destruidor da paz”. Em paralelo, forças terrestres dispararam com armas de longo alcance e realizaram treinamentos com munição real.
O objetivo é testar a capacidade militar de coordenação e bloqueio de Taiwan por céu, terra e mar. Em meio ao cerco, a Administração de Aviação Civil taiwanesa estabeleceu sete “zonas perigosas” temporárias ao redor do estreito. O treinamento chinês também levou ao atraso ou cancelamento de mais de 100 voos internacionais e domésticos, de acordo o site de quatro aeroportos da ilha autogovernada.
Em resposta, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, disse que responderá com cautela, evitando a escalada das tensões regionais. Em publicação no Facebook, ele escreveu que “a China tem intensificado a pressão militar com frequência nos últimos tempos, o que não é a conduta esperada de uma grande nação responsável”.
O Ministério da Defesa de Taiwan informou ter detectado 130 aeronaves, 14 navios militares e oito outras embarcações oficiais ao redor da ilha entre as 6h da manhã de segunda-feira, 29, e as 6h da manhã de terça-feira, 30, no horário local. Um balão militar chinês também foi avistado. Além disso, alguns projéteis e barcos se aproximaram mais do território do que em exercícios anteriores.
Analistas ouvidos por veículos como Reuters e Financial Times destacam que as manobras ocorrem poucos dias após Washington aprovar um pacote recorde de US$ 11 bilhões em vendas de armas a Taiwan, movimento que Pequim classificou como provocação. O governo chinês também citou declarações recentes de autoridades japonesas indicando que o Japão poderia se envolver em um eventual conflito no estreito.
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Tensões com Japão
Taiwan é reivindicada como parte integral da China, que opera quase diariamente nos céus e nas águas que circundam a ilha — movimentos apontados como uma campanha de assédio e pressão por Taipei. A disputa também deteriorou as relações entre Pequim e Tóquio, após a primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, sugerir que um ataque chinês a Taiwan poderia culminar em uma resposta militar japonesa.
No final de novembro, o Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, alertou que a primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, “cruzou uma linha vermelha” ao sugerir que um ataque a Taiwan poderia culminar numa resposta militar de Tóquio. Ele também adiantou que o governo chinês está preparado para “responder resolutamente” caso necessário e que todos os países têm a responsabilidade de “impedir o ressurgimento do militarismo japonês”.
“É chocante que os atuais líderes do Japão tenham enviado publicamente o sinal errado de tentar uma intervenção militar na questão de Taiwan, tenham dito coisas que não deveriam ter dito e cruzado uma linha vermelha que não deveria ter sido ultrapassada”, disse Wang, em referência à declaração da premiê japonesa a parlamentares no início de novembro.
A declaração seguiu uma carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na qual o embaixador chinês na ONU criticava a “grave violação do direito internacional” e das normas diplomáticas por Takaichi. O documento afirmava que “se o Japão ousar tentar uma intervenção armada na situação do Estreito, será um ato de agressão”, acrescentando: “A China exercerá resolutamente seu direito de autodefesa sob a Carta da ONU e o direito internacional e defenderá firmemente sua soberania e integridade territorial”.
Ainda em novembro, a China suspendeu importações de frutos do mar do Japão. A medida ocorreu meses depois de Pequim ter revogado parcialmente uma restrição anterior, emitida em 2023. Antes disso, o mercado chinês – incluindo Hong Kong – representava mais de um quinto das exportações japonesas. A imprensa japonesa informou que autoridades em Pequim teriam dito que a decisão estava relacionada à necessidade de monitorar melhor a qualidade da água, mas dado o contexto, foi interpretada como medida retaliatória.