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Além da Ucrânia: militares europeus advertem que Rússia prepara guerra

Todas as atenções estão concentradas nas excessivas concessões que o plano de Donald Trump faz à Rússia para conseguir uma paz injusta na Ucrânia, mas os riscos apontados recentemente por militares de altas patentes formam um quadro mais amplo – e aterrador, impensável para a maioria das pessoas acostumadas aos oitenta anos de estabilidade no pós-guerra.

A França corre o risco de fraquejar se “não aceitar perder seus filhos”, disse na semana passada o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas francesas, general Fabien Mandon, em declarações nada menos que bombásticas.

O general francês parte do princípio, que vem sendo repetido por equivalente de outros países europeus, de que a hipótese de um conflito com a Rússia já saiu dos planos de contingência e entrou no nível do inevitável – ou dificilmente evitável.

Disse ele, literalmente, num discurso a um congresso de prefeitos: “Nós temos todo o modo de fazer, toda a força econômica e demográfica para dissuadir Moscou. Se nosso país vacilar porque não está pronto a aceitar perder seus filhos e sofrer economicamente, pois as prioridades irão para a produção bélica, então estamos em posição arriscada. Falem disso em seus municípios”.

São palavras simplesmente assustadoras, ecoadas quase simultaneamente pelo comandante das Forças Armadas da Suécia, general Michael Claesson, numa entrevista ao site Politico, falando sobre o mesmo tema, a disposição da Rússia de Vladimir Putin de ir para o ataque e desafiar a cláusula da OTAN que estabelece o princípio do “todos por um”, de uma resposta coletiva a uma agressão a qualquer de seus membros.

“Eles estão preparados para correr enormes riscos estratégicos para ganhar o que quer que considerem possível ganhar”.

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“Tenho certeza de que eles estariam prontos a testar o Artigo 5 da carta da OTAN nos países Bálticos ou em qualquer outro ponto da Europa”.

Provavelmente não existe ninguém no mundo militar mais estável do que um general sueco, o que torna as declarações de Claesson mais impressionantes ainda.

GUERRA HÍBRIDA

Interferências eletrônicas em aeroportos civis e embarcações militares, incursões aéreas em países-chave como a Polônia, trajeto de submarinos em águas muito próximas dos domínios europeus e até o uso de raios laser, a partir dessas plataformas, para cegar pilotos da Força Aérea britânica, como aconteceu na semana passada, sustentam a visão de que os primeiros estágios de uma guerra híbrida, destinados principalmente a testar as forças do inimigo, já estão em andamento.

Esta é a visão do almirante da reserva Alan West, que ocupou posições importantes na Marinha britânica e assessorou um ex-primeiro-ministro, Gordon Brown.

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Disse ele quase ao mesmo tempo que os dois generais citados acima: “É extraordinário que estejamos numa zona cinzenta de guerra no momento. Acho que estamos efetivamente em guerra com a Rússia”.

“A enorme pressão que estão exercendo no Ártico está causando problemas para os países escandinavos”. Como outros países europeus, os geralmente pacíficos países nórdicos estão se rearmando e até a Alemanha, tão fiscalmente responsável, aceitou aumentar a dívida para aumentar e reequipar suas forças armadas.

O almirante West, que hoje pertence à Câmara dos Lordes, em seguida mencionou o que está na cabeça de todo mundo, embora muitos hesitem até em verbalizar: “É difícil ver como vamos sair disso porque ninguém quer uma guerra entre a OTAN e a Rússia. Eles perderiam. E, em perdendo, o perigo seria se então cometeriam o erro estúpido de partir para o nuclear”.

VINGANÇA APOCALÍPTICA

Pronto, falou. O grande risco é que a situação descrita pelos militares acima, conduza inexoravelmente a uma guerra nuclear e à total destruição mútua, pois a Rússia preferiria a própria extinção depois de uma derrota de grandes proporções – e com a vingança apocalíptica de saber que o adversário também seria varrido do mapa.

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Várias pessoas do entorno de Putin mencionam isso com frequência. Margarita Simonyan, a diretora de redação de um dos braços da mídia estatal, a RT, como foi rebatizado o conglomerado Russia Today, já disse que seria melhor a extinção em massa dos habitantes do país numa retaliação nuclear porque “não valeria a pena viver num mundo em que a Rússia não mais existisse”.

É com esse pano de fundo que devemos ver o plano de paz de Donald Trump para terminar a guerra na Ucrânia, com extremas concessões como a entrega oficial dos 20% do território ucraniano ocupados pela Rússia, a proibição da presença de militares da OTAN, a redução em um terço do Exército ucraniano e o retorno da Rússia ao convívio com os países desenvolvidos.

A reação negativa dos países europeus mostra a posição coletiva que os mobiliza desde a invasão da Ucrânia: é melhor resistir agora, mesmo ao preço de tantas vidas ucranianas, do que depois enfrentar uma Rússia mais agressiva na reconstrução de seu império, inclusive com a deglutição de países como os pobres bálticos, tão ameaçados.

PARANOIA DE PUTIN

Trump indicou que pensa o contrário: se a Rússia for aplacada por garantias de que a Ucrânia – a qual Putin considera parte integrante da esfera russa – não se descolará em direção à OTAN e houver promessas de vantagens econômicas, como o fim das sanções e futuros acordos comerciais, acabará vendo que não existem benefícios no expansionismo.

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Quem está com a razão?

Trump pode padecer de excesso de otimismo e de crença nas vantagens materiais como instrumento para a pacificação – sem contar a profunda antipatia por Volodymyr Zelensky, traduzida na declaração de que “a ‘liderança’ da Ucrânia tem gratidão zero por nossos esforços”. Talvez não entenda fundamentalmente como funciona a cabeça dos russos e a paranoia de Putin.

Mas não pode ser desprezada a hipótese de um conflito que se perpetue na Ucrânia e aumente as ações russas de guerra híbrida como já está acontecendo, com o potencial de que tudo redunde numa guerra mundial.

“A Ucrânia enfrenta um dos momentos mais difíceis da nossa história”, disse Zelensky, recuperando a aura de dignidade que ultimamente parecia tão trincada por denúncias de corrupção em seu entorno, ao reagir ao plano de Trump. Estariam na mesma posição, em breve, os países europeus hoje ameaçados pelo expansionismo russo? Um dos fundamentos da briga da Ucrânia por ajuda dos europeus ricos sempre foi o de que “nós somos vocês amanhã”. Como evitar isso?

Quem busca respostas fáceis dificilmente as encontrará.

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