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Ajustes simples na forma de andar podem frear progressão da artrose; veja como

Quase um quarto das pessoas com mais de 40 anos sofre de osteoartrite dolorosa, uma das principais causas de incapacidade em adultos. A doença, também conhecida por artrose, envolve a degradação da cartilagem que amortece as articulações, e atualmente não há como reverter esse dano: as intervenções mais difundidas envolvem o controle da dor com medicamentos e, em casos mais sérios, a substituição da articulação por meio de cirurgia. 

O problema é que cada vez mais pessoas mais jovens – entre 50 e 55 anos – chegam aos consultórios já com indicação para a cirurgia. “A artrose não é exclusividade dos idosos. Estamos vendo um aumento nos diagnósticos em pessoas mais jovens, influenciado pela obesidade, pelo sedentarismo e, em outro extremo, pelo excesso de atividades de impacto”, destaca o ortopedista Fernando Jorge, especialista em Medicina Intervencionista em Dor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.

Nesse cenário, qualquer alternativa capaz de adiar a necessidade da prótese é relevante. E um estudo publicado em agosto no periódico The Lancet, uma das mais renomadas revistas científicas, aponta que a solução pode estar em algo aparentemente simples: a reeducação da marcha, ou seja, ajustes na forma de andar.

Como funciona?

Como metodologia, foram selecionados 68 participantes com artrose leve a moderada no compartimento medial do joelho, a parte interna da articulação, que suporta a maior parte do peso do corpo e, por isso, é mais afetada pela doença.

Nas primeiras consultas, todos passaram por ressonância magnética e caminharam em uma esteira sensível à pressão, enquanto câmeras registravam cada movimento. Esse exame permitiu aos pesquisadores identificar quais ajustes seriam mais eficazes para cada pessoa, incluindo se o pé deveria ser levemente girado para dentro ou para fora, e se mudanças de apenas 5 a 10 graus no ângulo do pé seriam suficientes para aliviar a carga sobre o joelho. Vale ressaltar que os pesquisadores já haviam testado alterações de ângulo em estudos anteriores, mas de forma padrão para todos os participantes, o que não resultou em ganhos significativos; desta vez, o foco foi observar a marcha de cada participante e definir ajustes personalizados.

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Metade dos voluntários continuou caminhando como de costume, servindo de grupo de controle. A outra metade passou pela reeducação da marcha, com ajustes simples, como levantar um pouco mais o joelho, reduzir o impacto do calcanhar ou alterar levemente o ângulo da pisada, ensinando o corpo a andar de forma a proteger melhor o joelho.

O tratamento durou seis semanas, com sessões em que os participantes recebiam feedback imediato por meio de vibrações em dispositivos presos às pernas, ajudando-os a manter o novo ângulo da pisada. Depois, deveriam repetir o movimento em caminhadas diárias de pelo menos 20 minutos.

Após um ano, os participantes que passaram pela reeducação da marcha apresentaram resultados significativamente melhores do que aqueles que continuaram caminhando normalmente. A dor na parte interna do joelho caiu, em média, cerca de 1 ponto em uma escala de 0 a 10, valor considerado clinicamente relevante em pacientes com osteoartrite, semelhante à redução obtida com analgésicos comuns.

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Além disso, a forma de andar mais ajustada reduziu a pressão sobre o joelho durante a caminhada e ajudou a desacelerar a degeneração da cartilagem. “A intervenção se mostrou uma medida simples, mas com resultados expressivos, além de poder ser facilmente adotada pelos pacientes. Podemos dizer que é animador”, opina Fernando Jorge.

Scott Uhlrich, líder do estudo e professor assistente de Engenharia Mecânica na Universidade de Utah, destacou ao Stanford Report que, especialmente para pessoas entre 30 e 50 anos, a artrose pode exigir décadas de tratamento da dor antes que a substituição da articulação seja indicada. “Esta intervenção pode ajudar a preencher essa lacuna no tratamento”, afirma.

O desafio da aplicação

Apesar dos bons resultados, a técnica ainda não pode ser aplicada em larga escala, pois depende de tecnologias sofisticadas e caras, como a captura de movimento para prescrever os ajustes. Os autores esperam que, no futuro, dispositivos móveis e calçados inteligentes tornem o método mais acessível na prática clínica — algo que eles já estão desenvolvendo. Além disso, a pesquisa abre caminho para novos estudos e para explorar formas mais simples de colocar essa adaptação da marcha em prática.

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Diretrizes

Recentemente, no 42º Congresso Brasileiro de Reumatologia, foram divulgadas três recomendações que devem compor futuras diretrizes para o manejo da artrose. Uma delas é a prática de atividades físicas. Mesmo sem os tais ajustes na forma de andar, investir no movimento já é importante: fortalece os músculos, melhora a mobilidade, reduz dor e ajuda no controle do peso (um fator crucial quando se trata da artrose).

Segundo estudos, o melhor tipo de exercício é aquele que o paciente consegue incluir na rotina. Caminhadas e hidroginástica se destacam em termos de adesão, e práticas que desenvolvem habilidades neuromotoras, como equilíbrio e consciência corporal — tai chi e yoga, por exemplo — também podem trazer benefícios.

Outro ponto importante é a escolha do calçado. Isso não significa investir nos mais caros, mas escolher modelos com solado flexível e amortecedor, pontos de fixação na frente e atrás do pé. O uso de palmilhas com apoio central (cunha medial) pode ser indicado para pacientes com desgaste no compartimento lateral do joelho, mas não há benefício comprovado de cunhas laterais para o compartimento medial, o mais comum.

As diretrizes completas devem ser publicadas ainda este ano em periódico científico.

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