O ex-deputado estadual e ex-delator premiado Tony Garcia, que alega ter sido por anos “agente infiltrado” do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR), pediu para ser incluído em um programa de proteção a testemunha. A informação consta de despacho confidencial que embasou a recente busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, local de onde o ex-magistrado expedia as decisões sobre o escândalo do petrolão.
Segundo Garcia, ele precisaria de “garantias e proteções inerentes ao programa de proteção de testemunhas e vítimas ameaçadas” por considerar que Moro, mesmo afastado da magistratura desde 2019, exerceria influência direta junto a juízes, desembargadores, procuradores e até junto ao delegado Ricardo Saadi, que chefiava, no governo Lula, a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da PF.
Atual presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Saadi foi exonerado da Superintendência da PF no Rio de Janeiro pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019, episódio que o próprio Moro classificou como evidência da tentativa do ex-mandatário de aparelhar a corporação em benefício próprio. O ex-juiz e o delegado nunca foram próximos.
A suposta ingerência de Moro no Ministério Público, na Polícia e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) foi endossada pelo juiz federal Eduardo Appio, afastado recentemente da 18ª Vara de Curitiba após acusações de ter furtado garrafas de champanhe. Appio foi ouvido em setembro passado sobre pretensas irregularidades de Moro e, de acordo com a PF, como forma de “garantir a máxima contemporaneidade dos fatos sob apuração com relação aos abusos perpetrados” imputados ao antigo juiz da Lava-Jato e a procuradores de Curitiba.
Ao longo de horas de depoimento, Tony Garcia acusa Sergio Moro de ter usado vídeos obtidos clandestinamente para chantagear desembargadores que decidiriam a liberdade de Lula na Lava-Jato. A história é rocambolesca e cheia de pontas soltas, mas foi encampada pelo delegado Rafael Fernandes Souza Dantas, que relatou o caso ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, autor da determinação para que houvesse uma “diligência in loco” na 13ª Vara em busca de evidências que pudessem comprovar as imputações feitas pelo ex-delator.
Procurado, Sergio Moro disse não ter “nenhum receio sobre a investigação porque ela é baseada em relatos mentirosos e fantasiosos de criminosos condenados”. “Ela tem por objeto fatos de vinte anos atrás e não houve qualquer irregularidade. Espanta-me que isso possa ser levado a sério”, completou o senador a VEJA. Tony Garcia, por sua vez, voltou a afirmar ter sido um “agente infiltrado do Moro por 20 anos” e afirmou que suas revelações serão “piores do que a Vaza-Jato”.
Em 2019, com o avanço das investigações sobre o escândalo do petrolão, vieram à tona mensagens hackeadas de procuradores de Curitiba que mostravam que o então juiz e membros do Ministério Público combinavam estratégias e discutiam a produção de provas contra investigados, o que é ilegal. O escândalo das mensagens levou o Supremo a declarar Moro parcial e a anular todos os processos que tinham Lula como réu, o que permitiu que o petista concorresse e vencesse as eleições seguintes, em 2022.