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Agência de saúde dos EUA reformula página oficial e sugere que vacinas podem causar autismo

O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), principal agência de controle de doenças dos Estados Unidos, reformulou sua página oficial para declarar que “a afirmação ‘as vacinas não causam autismo’ não é baseada em evidências”, abrindo margem para a interpretação de que poderia existir algum tipo de ligação entre imunizantes infantis e o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A revisão ocorre após uma série de declarações do atual Secretário da Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., que há anos sustenta publicamente essa relação, ideia já contestada por ampla literatura científica.

Antes, o portal oficial do CDC apresentava posicionamento oposto, declarando que “estudos mostraram que não há ligação entre receber vacinas e desenvolver TEA”. Como uma das principais autoridades globais em saúde pública, responsável por monitorar doenças, orientar campanhas de vacinação e investigar surtos, o CDC exerce influência sobre políticas sanitárias dentro e fora dos EUA. Por isso, a atualização levanta preocupações, já que pode alimentar a hesitação vacinal, abalar a confiança em imunizantes e afetar coberturas já fragilizadas.

O novo texto não faz referência a um dos estudos mais robustos sobre o tema, publicado em 2019 por um grupo dinamarquês. A pesquisa acompanhou mais de 650 mil crianças nascidas entre 1999 e 2011 e identificou cerca de 6.500 diagnósticos de autismo ao longo do acompanhamento. A comparação entre vacinados e não vacinados, porém, não apontou diferença significativa no risco de desenvolver TEA, independentemente de histórico familiar, exposição a outras vacinas ou fatores que poderiam predispor algumas crianças a quadros regressivos após imunização.

Ainda assim, o CDC passou a destacar argumentos frequentemente usados por grupos antivacina, como a hipótese de que adjuvantes à base de alumínio presentes em alguns imunizantes explicariam o aumento de diagnósticos. Trata-se de uma narrativa repetida há décadas e já examinada sob diversos ângulos, sem que se tenha encontrado mecanismo biológico plausível. Além disso, grande parte dos estudos citados nesses debates apresenta fragilidades metodológicas.

O curioso é que a própria página do CDC menciona um estudo recente, publicado em 2025, que avaliou mais de 50 desfechos de saúde e não encontrou qualquer associação entre alumínio em vacinas e doenças neurológicas, incluindo autismo. Apesar disso, o relatório sugere que tabelas suplementares do trabalho “justificariam investigação adicional”, sem detalhar por quê.

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Instituições se posicionam

Instituições de saúde públicas e privadas seguem reiterando que não existe base científica para vincular vacinas ao autismo. O aumento de diagnósticos, frequentemente usado como argumento, é explicado por especialistas como reflexo da ampliação dos critérios diagnósticos, maior conscientização e aprimoramento das ferramentas de avaliação.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) reforçou essa posição em setembro, após declarações do então presidente dos EUA, Donald Trump, reacenderem especulações sobre supostos riscos vacinais. No documento, a entidade destaca:

  • O boato teve origem no estudo de Andrew Wakefield, de 1998, posteriormente retratado, considerado fraudulento e responsável pela cassação de seu registro profissional
  • Pesquisas de diferentes países, com centenas de milhares de crianças, descartaram associação entre a vacina tríplice viral e o TEA
  • Tanto o timerosal (composto à base de etilmercúrio) quanto os adjuvantes de alumínio usados em alguns imunizantes têm sua segurança atestada por estudos populacionais amplos e por entidades como a OMS, FDA e Academia Americana de Pediatria.

A SBIm também ressalta que a segurança das vacinas é sustentada por “robusta literatura científica e por décadas de monitoramento global”, e reforça que a hesitação vacinal estimulada por narrativas equivocadas já mostrou ter consequências graves no passado recente, especialmente durante a covid-19. “A história e a ciência já comprovaram que vacinas não prejudicam a saúde. Vacinas salvam vidas. Isso não é opinião, é fato”, diz texto publicado pela instituição.

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