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Adultização: de redes sociais a músicas e programas de TV

O vídeo viral feito pelo influenciador Felipe Brassanim Pereira, o Felca, trouxe à tona um termo que se tornou centro das discussões — a adultização. Ele se refere a quando crianças e adolescentes são expostos a conteúdos, comportamentos, responsabilidades ou padrões estéticos típicos da vida adulta. 

É possível identificar inúmeros exemplos de adultização para além do caso de Hytalo Santos. Desde a televisão nos anos 1980, com crianças dançando músicas como É o Tchan. Mais tarde, com o uso cada vez maior de redes sociais, crianças viralizaram cantando funks no Facebook, como MC Pedrinho ou MC Melody. A cantora, que completou 18 anos em 2025, ficou famosa aos 8 anos, em 2015, quando viralizou nas redes sociais com um vídeo da música Fale de Mim, composta por seu pai, MC Belinho. Na época, a forma como sua imagem foi trabalhada também gerou debates sobre a sexualização infantil. Ainda no universo da televisão, programas como o MasterChef Júnior, versão do reality show exibido pela Band, que trazia crianças como participantes, enfrentou problemas de assédio com uma das participantes. Valentina tinha apenas 12 anos e virou alvo de cantadas de telespectadores muito mais velhos. Até o mundo do carnaval pode ser alvo de debates sobre adultização. Lorena Raissa, rainha de bateria da Beija-Flor, entrou no cargo aos 16 anos. Wenny Isa, 16, irmã da cantora da Lexa, também passou pelo mesmo processo quando foi rainha de bateria da Unidos de Bangu aos 15 anos. 

O tema, porém, não é necessariamente novo, já que desde a década de 1980 especialistas alertam para os impactos dessa exposição prematura a certos assuntos; como explica o antropólogo Bernardo Conde, doutor em Ciências Sociais pela UERJ, à coluna GENTE.

“O ocidente inventa a infância na virada do século retrasado. Antes as crianças eram considerados mini adultos. Não havia essa instância especial de um mundo, uma linguagem, objetos, roupas destinados para uma categoria chamada infância. A gente inventou a infância na ideia de proteger esse momento que a criança não tem estrutura psico motora para se envolver, para se afetar pelo mundo adulto. Ali nos anos 1980 se discutia: ‘Não, mas o show da Xuxa, a Xuxa com aquela roupa, estão sexualizando as crianças antes da hora’. Mais à frente você vai ter as danças, como boquinha da garrafa, que são a erotização da criança. Há uma série de divergências que vão acentuando esse processo de separação muito bem feita entre o que é o mundo adulto e o que é o mundo da infância. O que é se adultizar? A ideia da criança que precocemente vai vestir uma persona ou uma maneira de ser, de agir, de representar o que é hoje exclusivo do mundo adulto. Desde os mini pastores, a concurso de beleza e a ideia de trabalho que tem essa dimensão da erotização, da sensualização e da provocação que é do mundo adulto”. 

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