O réu acusado de assassinar Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro do Japão, se declarou culpado durante a primeira audiência do caso, realizada no Tribunal Distrital de Nara, nesta terça-feira, 28. O crime aconteceu em 2022, quando o antigo premiê discursava durante a campanha para as eleições daquele ano.
“É verdade que fiz isso”, declarou Tetsuya Yamagami, de 45 anos. Segundo a emissora pública japonesa NHK, o atirador aparentava estar calmo, vestido com moletom preto e calças cinzas, com o cabelo comprido preso para trás. Ele é acusado de assassinato, violação da Lei de Controle de Espadas e Armas de Fogo, entre outros crimes.
No entanto, o advogado do réu apontou que irá contestar algumas das acusações, como a violação da Lei de Armas, uma vez que aquela usada por Yamagami era artesanal. De acordo com a imprensa local, o armamento usado no ataque foi uma espingarda caseira, de fabricação grosseira. Caso seja bem-sucedido, a sentença do atirador pode ser reduzida. Segundo a promotoria, o assassino teria montado 10 armas do tipo.
Durante o interrogatório, Yamagami afirmou ter cometido o crime devido a um grande ressentimento contra a Igreja da Unificação, uma organização religiosa oriunda da Coreia do Sul. Ele culpava Abe por promover a instituição, da qual sua mãe era fiel e, devido a doações financeiras constantes, teria levado sua família à falência.
Após o encerramento da primeira sessão do tribunal, outras 17 audiências serão marcadas até o final do ano. A corte pretende colher depoimentos de um acadêmico familiarizado com a Igreja da Unificação, um advogado que trabalha com questões referentes a doações para a entidade, e a própria mãe de Yamagami. É esperado que um veredito seja proferido até o dia 21 de janeiro.
A morte de Shinzo Abe aconteceu em 8 de julho de 2022, enquanto o ex-premiê discursava durante um evento de campanha para a Câmara dos Vereadores na cidade de Nara, no oeste do país. Abe foi baleado em frente à estação Kinetsu Yamato-Saidaiji. Ele chegou a ser transportado para o hospital de helicóptero, mas não resistiu aos ferimentos. Morador da cidade, Tetsuya Yamagami foi preso no local do ataque.
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Igreja da Unificação
Criada em 1954 na Coreia do Sul, a Igreja da Unificação é conhecida por promover casamentos em massa no Japão. A instituição, conhecida oficialmente como Federação das Famílias para a Paz Mundial e Unificação, foi fundada por Sun Myung Moon e apresenta uma variação da teologia cristã que vê o líder como o novo messias.
A instituição é conhecida por sua capacidade de angariar recursos financeiros, principalmente em terras nipônicas, de onde se originam 70% dos fundos que administra. Uma parte relevante desses recursos é oriunda de seus fiéis, que fazem doações para “ajudar a elevar o espírito” de familiares e pessoas queridas falecidas.
O assassinato de Abe desencadeou uma série de reportagens a respeito da igreja na mídia japonesa. As publicações alegavam que inúmeros parlamentares do Partido Liberal Democrata (PLD), sigla que governa o país, tinham profundas ligações com a organização, levando ao estabelecimento de um inquérito para averiguar as acusações.