A agência de defesa civil de Gaza, cujo governo é administrado pelo Hamas, informou nesta quarta-feira, 6, que vinte pessoas morreram após um caminhão de ajuda humanitária capotar perto do campo de refugiados de Nuseirat, no centro do enclave.
“Vinte pessoas morreram e dezenas ficaram feridas por volta da meia-noite de ontem em um caminhão que transportava ajuda humanitária que capotou enquanto centenas de civis aguardavam ajuda”, disse o porta-voz da agência, Mahmud Bassal, à agência de notícias AFP.
O Hamas acusou Israel de forçar motoristas de caminhão a seguir rotas inseguras para chegar aos centros de distribuição de ajuda humanitária. “Isso frequentemente resulta em multidões desesperadas aglomerando-se em volta dos caminhões”, afirmou sua assessoria de imprensa em um comunicado.
Motoristas de caminhão trabalham com entregas de ajuda humanitária em Gaza vêm denunciando que seu trabalho se tornou cada vez mais perigoso nos últimos meses, à medida que pessoas famintas ficam cada vez mais desesperadas por comida e gangues violentas preencheram o vácuo de poder deixado por líderes do Hamas, muito combalido, no território.

Virou quase rotineiro as multidões de palestinos em cenas angustiantes, arrancado suprimentos das carrocerias de caminhões em movimento, dizem os motoristas locais. Segundo relatos de testemunhas, alguns dos veículos de transporte foram sequestrados por homens armados que trabalham para gangues que vendem a ajuda humanitária nos mercados de Gaza a preços exorbitantes.
Fome e insegurança alimentar
Um relatório recente da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), grupo referência de especialistas apoiados pelas Nações Unidas, afirmou que “o pior cenário” possível de fome está se desenrolando na Faixa de Gaza neste momento.
Formalmente, fome é classificada como uma situação em que pelo menos 20% da população enfrenta escassez extrema de alimentos, uma em cada três crianças sofre de desnutrição aguda e duas pessoas em cada 10 mil morrem diariamente de causas relacionadas à fome.
A maior parte de Gaza ultrapassou o limiar de consumo de alimentos. Segundo o IPC, um em cada três indivíduos passa dias sem comer.
Além disso, entre abril e meados de julho, mais de 20 mil crianças foram internadas para tratamento de desnutrição aguda, 3 mil delas gravemente desnutridas. Segundo dados das Nações Unidas, das 74 mortes em Gaza relacionadas à desnutrição em 2025, 63 ocorreram em julho – incluindo 24 crianças menores de cinco anos, uma criança maior de cinco anos e 38 adultos.
Um documento anterior do IPC indicou que o último cessar-fogo na Faixa de Gaza, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário”, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”.