A decisão do ministro Dias Toffoli de marcar uma acareação envolvendo o Banco Master, o ex-presidente do BRB e representantes do Banco Central gerou ruído imediato no mercado financeiro. Na Faria Lima, investidores e analistas tentam decifrar se o movimento traz riscos jurídicos, regulatórios ou institucionais para o sistema financeiro, ou se tende a ficar restrito ao campo político e judicial.
Do ponto de vista do mercado, a avaliação predominante é de que a acareação não altera o problema central já identificado pelos investidores. Segundo Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da FBNF – Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças, o caso deixou de ser apenas jurídico e passou a ser, sobretudo, uma questão de confiança. “A leitura é que a acareação adiciona ruído, alonga o noticiário negativo e aumenta a sensação de insegurança. De toda forma, o dano reputacional já está precificado”, afirma.
Na prática, a exposição prolongada do caso no noticiário amplia a percepção de fragilidade institucional, elemento que pesa diretamente na avaliação de risco feita pelos investidores. Para o mercado, episódios desse tipo tendem a reforçar o prêmio de risco exigido ou até mesmo levar à exclusão do ativo das carteiras, especialmente quando há dúvidas sobre governança. Louzada avalia que o caso do Banco Master se tornou um símbolo de um erro recorrente no mercado financeiro, sobretudo entre investidores de renda fixa. “Para o investidor, especialmente o de renda fixa, o episódio reforça uma lição antiga que muitas vezes é ignorada em momentos de euforia. O retorno elevado quase sempre é reflexo direto de risco elevado. O Banco Master virou um símbolo desse trade-off mal compreendido”, explica.
A acareação, segundo ele, tende a aprofundar ainda mais essa leitura negativa ao evidenciar divergências entre versões apresentadas por executivos, reguladores e demais envolvidos no processo. “Governança ruim, no mercado financeiro, é sinônimo de prêmio de risco mais alto ou, simplesmente, de exclusão da carteira”, acrescenta. No curto prazo, a orientação predominante entre investidores é de cautela máxima. Aqueles protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) tendem a ser ressarcidos, mas enfrentam o desafio da espera e da incerteza até a efetiva devolução dos recursos.
Além do impacto imediato, o economista acredita que o episódio pode gerar mudanças estruturais no comportamento do investidor brasileiro. “A busca cega por CDBs e produtos de bancos pequenos com taxas muito acima da média tende a diminuir”, afirma.
Nesse novo cenário, a exigência por maior transparência, balanços mais claros e histórico consistente de governança deve ganhar peso, mesmo que isso signifique abrir mão de alguns pontos percentuais de rentabilidade. Do lado das instituições financeiras, o mercado tende a se tornar mais seletivo no funding, encarecendo o crédito para quem não consegue demonstrar solidez.