No começo de agosto, a vice-prefeita e secretária de Saúde de Ribeira, cidade paulista de pouco mais de 3.100 habitantes a cerca de 600 km da cidade de São Paulo), Juliana Maria Teixeira da Costa (MDB), e mais dois homens foram denunciados criminalmente pelo Ministério Público por crimes contra a administração pública — um deles é o desvio de 41.200,00 reais dos cofres públicos para, supostamente, pagar o curso de uma amarração amorosa.
A ação penal apresentada pelo Ministério Público no dia 30 de julho pede que Juliana, Lauro Olegário da Silva Filho (que é coordenador de saúde do município) e William Felipe da Silva (sócio de uma empresa de consultoria contratada pela prefeitura) sejam colocados no banco dos réus pelos crimes de associação criminosa, fraude a licitação, uso de documento falso e peculato.
De acordo com a denúncia, existia uma espécie de esquema entre os três para que a empresa de William, W. F. da Silva Treinamentos, vencesse diversos pregões de Ribeira na área da saúde. A empresa foi contratada para, por exemplo, gerenciar a contratação de médicos para a prefeitura, mas mantinha como sede uma casa em um bairro residencial de Curitiba.
O MP afirma que as investigações mostraram que a empresa “sabia de antemão as próximas licitações que seriam abertas” e mudava sua atividade conforme cada edital. Além disso, depois de Juliana assumir a pasta da saúde, a empresa teriam embolsado mais de 4 milhões de reais entre de 1º de janeiro de 2022 e 28 de julho de 2025.
A parte da “amarração amorosa” é apenas um dos crimes da denúncia. Segundo o MP, a empresa de William teria emitido uma nota fiscal fria, em agosto de 2024, no valor de 41.200 reais, para um serviço que nunca foi prestado. Depois que recebeu esse dinheiro dos cofres públicos, teria transferido o valor para uma mentora espiritual, que revelou publicamente o trabalho.
Um perfil de rede social, chamado “Mentora Samantha”, divulgou prints de comprovantes de pagamento vindos tanto da própria Juliana quanto da W. F. da Silva Treinamentos, afirmando que esses valores teriam sido usados para pagar um trabalho de “casamento espiritual” entre Juliana e Lauro Olegário (que também foi denunciado). A vice-prefeita teria encomendado a amarração para afastá-lo da esposa.
Defesa
Juliana chegou a ingressar com uma ação judicial contra o perfil de “Mentora Samantha” afirmando que o conteúdo é difamatório, mas o caso está paralisado aguardando que ela pague as custas para dar andamento ao processo.
A Justiça de São Paulo aceitou um pedido do MP para impor algumas restrições aos acusados, como não terem qualquer contato entre si e não poderem ir à sede da prefeitura de Ribeira. Juliana e Lauro ficaram suspensos do cargo, sem receber salário. A defesa dos três pediu a revogação dessas medidas cautelares e disse que “nada de concreto ou até mesmo abstrato foi constatado no Inquérito Policial. Além disso, no processo a defesa acusou a “Mentora Samantha” de tentar extorqui-los.
“‘Mentora Samantha’ agiu totalmente com fatos inverídicos e de má-fé, ignorando e abduzindo provas documentais e testemunhais, inclusive extratos de conversas que apontam e corroboram que os acusados foram vítimas de um contexto de ameaças e exigências financeiras, capitulando em tese o crime de extorsão, fato esse que vai ser apurado em competente inquérito policial”, diz trecho da manifestação dos advogados da vice-prefeita.