Apenas 13% dos brasileiros com algum conhecimento em inglês se consideram fluentes, segundo a pesquisa “Idiomas e Habilidades”, realizada pela Pearson em parceria com a Opinion Box. O estudo, que entrevistou mais de 7 mil pessoas no país entre fevereiro e abril de 2025, revela que a maioria dos que têm contato com o idioma ainda está nos estágios iniciais de aprendizado: 49% afirmam ter nível básico, enquanto 38% possuem nível intermediário. A pesquisa também traz outro dado significativo: quase um terço (29%) afirma não ter contato com nenhum idioma além do português.
Essas lacunas de acesso e de proficiência persistem no país e apresentam implicações profundas, especialmente quando é exigida resiliência diante das mudanças tecnológicas no mercado de trabalho e do cenário econômico global volátil. Embora ainda incipiente no Brasil, o conhecimento na língua inglesa é altamente demandado, uma vez que abre portas, melhora remunerações e é um importante fator de conexão com o restante do mundo. Não à toa que entre as duas principais razões para aprender o idioma estão o desenvolvimento profissional (47%), seguido por fazer uma viagem internacional (39%).
A partir de uma perspectiva corporativa, a falta de proficiência em inglês intensifica a percepção de um “abismo de habilidades” entre as necessidades de empregadores e as competências atuais dos trabalhadores. Esse desafio é destacado em outro relatório da Pearson, “Perdidos na transição: corrigindo a lacuna de habilidades”, apresentado na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial.
De acordo com o documento, os profissionais ainda não estão preparados para o ritmo de aprendizado exigido no futuro do trabalho. Com as interrupções tecnológicas cada vez mais rápidas transformando as economias, o aprimoramento (upskilling) e a requalificação (reskilling) assumem uma importância ainda maior. Nesse sentido, ampliar o acesso ao aprendizado de um novo idioma significa capacitar os trabalhadores para que estejam aptos a acessar novas tecnologias, inovações e metodologias de ponta que, muitas vezes, exigem conhecimento da língua inglesa.
Embora a proficiência em inglês ainda seja vista socialmente como um privilégio, ela se mantém como uma habilidade necessária em boa parte dos ambientes laborais – até mesmo no empreendedorismo e entre profissionais liberais. A pesquisa “Idiomas e Habilidades” aponta que há uma relação direta entre aprendizado de inglês e skills ligadas à tecnologia. Cerca de 30% alegam que saber inglês é útil para usar ferramentas digitais e desenvolver habilidades tecnológicas. Mas e se não temos o conhecimento linguístico suficiente?
Como consequência, de um lado, temos uma escassez de talentos qualificados. De outro, profissionais com desvantagens significativas devido à falta do domínio no idioma, como a dificuldade de aprender e aplicar as melhores práticas globais em suas áreas de atuação. Além disso, ficam limitados o acesso a novas oportunidades e o crescimento na carreira – cenário confirmado por um levantamento da Catho que aponta que pessoas fluentes em inglês podem ganhar até 70% mais em sua remuneração mensal.
Essa falta de mobilidade na carreira também aparece na pesquisa “Idiomas e Habilidades”. O desenvolvimento profissional figura entre as principais motivações para o estudo da língua inglesa – o que mostra que o brasileiro reconhece a importância do seu aprendizado –, mas ainda assim barreiras estruturais continuam a limitar o avanço do inglês entre a população: 33% não estudam por falta de recursos financeiros.
Uma das alternativas para mitigar essa lacuna tem sido investir ainda mais em qualificação. Há empresas, por exemplo, que contam com programas de trainee como porta de entrada para profissionais em início de carreira e que, muitas vezes, deixam de incluir o inglês como pré-requisito no processo seletivo para atrair e contratar talentos com os perfis mais aderentes ao negócio. Outra, certamente é o trabalho de base na educação, incluindo o ensino de inglês desde cedo na educação pública, como o que vem acontecendo a partir do 1º do Fundamental em Mogi das Cruzes (SP), Manaus (AM), Abaetetuba (PA) e Sertaneja (PR), em uma aliança da Embaixada Britânica e a FNP (Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos).
Adquirir novas habilidades permanentemente é imprescindível para o trabalhador de hoje e do futuro. Sem dúvida, a fluência em inglês contribui significativamente nesse processo. Portanto, mais do que um diferencial, o idioma seguirá sendo uma necessidade para quem busca se manter relevante em um mercado continuamente impactado por transformações tecnológicas e culturais.
- Sobre as autoras:
Cinthia Nespoli além de CEO Brasil, atua como General Counsel da Pearson liderando as áreas Jurídica, de Sustentabilidade e Relações Governamentais em âmbito global. Formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, com pós-graduação em Direito Tributário pela PUC São Paulo.
Stephanie Al-Qaq é Embaixadora do Reino Unido para o Brasil desde novembro de 2022. Graduada em Política Internacional e Francês pela Universidade de Birmingham e mestre em Relações Internacionais pela Escola de Estudos Orientais e Africanos na Universidade de Londres.