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A terapia que devolveu a esperança para curar o câncer de estômago

A última edição do encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) ficará marcada como o evento que consolidou a entrada definitiva da imunoterapia nas fases iniciais do tratamento do câncer gástrico.

O estudo MATTERHORN apresentou resultados robustos ao demonstrar que a adição de durvalumabe à quimioterapia perioperatória padrão melhora significativamente os desfechos em pacientes com adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica (GEJ) localmente avançado. É um avanço digno de nota.

Até recentemente, os tumores de estômago eram tratados exclusivamente com cirurgia e quimioterapia, com taxas de recorrência ainda alarmantes. A pesquisa recém-apresentada propõe um novo paradigma: integrar um imuoterápico à quimioterapia antes e depois da cirurgia.

Os resultados foram bem-sucedidos. A taxa de recidiva de doença ou morte, 24 meses após a cirurgia, caiu de 41% para 33%, sem toxicidades significativas.

O impacto desse estudo vai além dos números. Como destacou a oncologista Yelena Janjigian, do Memorial Sloan Kettering, nos EUA, a adição de durvalumabe não comprometeu a viabilidade cirúrgica nem aumentou substancialmente a toxicidade, o que é fundamental para um tratamento com intenção curativa. Em outras palavras, a imunoterapia demonstrou ser segura, viável e eficaz nesse novo cenário.

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Essa notícia muda completamente a trajetória dos pacientes com câncer gástrico. Até então, mesmo após cirurgia e quimioterapia, muitos evoluíam com recidiva precoce. A introdução do durvalumabe atua sobre essa falha do sistema imune em eliminar células residuais após o tratamento inicial.

O racional é claro: a imunoterapia estimula o sistema imunológico no momento em que o tumor é mais vulnerável — antes e após a cirurgia —, quando há menor carga tumoral e maior chance de resposta efetiva.

Além disso, o MATTERHORN, que teve participação de sete centros de pesquisa do Brasil integrando um grupo de importantes instituições mundiais, abre a possibilidade de aplicação da imunoterapia mesmo fora de contextos altamente selecionados por biomarcadores. Ainda que a expressão de PD-L1 e a carga mutacional sejam relevantes, o estudo mostrou benefício mesmo em uma população mais heterogênea, o que reforça o valor da abordagem para um número mais amplo de pacientes.

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Os próximos passos envolvem entender quais subgrupos mais se beneficiam da adição do durvalumabe, o papel de biomarcadores apontados por exames e a melhor duração do tratamento no cenário adjuvante. Mas a direção é clara: a imunoterapia chegou para ficar no tratamento do câncer gástrico. Trata-se de uma virada de chave na condução da doença: tratar precocemente, com intensidade e inteligência biológica.

* Diogo Bugano é oncologista clínico e médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP)

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