A manobra que levou à caducidade da Medida Provisória (MP 1303/2025) que previa aumento de impostos sobre casas de apostas, fintechs e grandes investidores, partiu de líderes de partidos que, paradoxalmente, integram o governo. O resultado não foi apenas uma derrota fiscal, mas um retrato nítido da fragilidade da coalizão lulista.
Desde a primeira passagem do PT pelo Palácio do Planalto, a base se sustenta menos em convicções do que em cargos. E o governo, acostumado à ideia de acomodar apaniguados de partidos nos cabides dos ministérios e das estatais para garantir apoio no Congresso, parece perdido diante da nova realidade – em que a fidelidade é meramente a lembrança de um passado inexistente.
Membros de siglas instaladas no coração do governo trabalharam para inviabilizar uma proposta essencial à própria estabilidade do Executivo. É urgente impor limite para esse tipo de convivência. Quando presidentes de partidos que controlam ministérios votam com a oposição, não se trata de liberdade parlamentar, mas de deslealdade política.
Enquanto o governo fingir não ver que a sabotagem vem do berço – e que parte de seu time só pensa em fazer gol contra – continuará perdendo algumas disputas, antes mesmo de entrar na arena. O Executivo precisa decidir se continua refém de adversários travestidos de aliados, ou se arcará com o custo de reordenar alianças em nome da coerência.