Os protestos contra a PEC da Blindagem e a anistia neste domingo, 21, estamparam notícias na imprensa internacional. Aprovado na semana passada, o projeto estabelece que processos criminais contra parlamentares só podem ser abertos com aval do Legislativo e restringe condições para a prisão de senadores e deputados, além de abrir caminho para uma possível anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo envolvimento na trama golpista.
O jornal britânico The Guardian afirmou que “grandes multidões lotaram as praças e praias de algumas das maiores cidades do Brasil para expressar sua oposição às tentativas da direita de ajudar Bolsonaro a escapar da prisão por sua tentativa frustrada de tomada de poder, que incluía um plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e um juiz da Suprema Corte”, em referência a Alexandre de Moraes. A reportagem também apontou que “estrelas do teatro e do cinema”, como o ator Wagner Moura, marcaram presença nos atos.
“Os protestos pró-democracia foram liderados por alguns dos músicos mais amados do Brasil, incluindo um trio de compositores lendários que estavam na vanguarda da luta contra a brutal ditadura militar do país (1964-85): Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil”, disse o texto, acrescentando: “Enquanto Veloso, Buarque e Gil tocavam uma série de clássicos da ditadura em um caminhão de som perto da areia, a multidão gritava: ‘Sem anistia’.”
A emissora britânica BBC destacou que os manifestantes “expressaram sua indignação com a aprovação pela câmara baixa de uma emenda constitucional que tornaria mais difícil iniciar processos criminais contra legisladores”. A matéria indicou que as passeatas deste domingo ocorrem “duas semanas depois que apoiadores do ex-presidente Bolsonaro foram às ruas para denunciar os processos judiciais contra ele”, o que mostra o “quão divididos os brasileiros permanecem em relação ao julgamento de Bolsonaro”.
A agência de notícias Reuters disse que “os protestos, organizados por movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos, denunciaram parlamentares que tentavam evitar consequências legais para si próprios e para Bolsonaro” e, assim como a BBC, pintou o retrato da polarização no Brasil: “Foi a primeira grande manifestação desde a condenação de Bolsonaro neste mês, com números que rivalizam com os recentes protestos de direita contra sua sentença nas principais cidades, reforçando as divisões gritantes em uma das maiores democracias do mundo”, afirmou.
A emissora americana ABC News salientou o papel dos músicos brasileiros, hoje e no passado, na defesa da democracia: “As lendas da música Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil — que desafiaram a censura durante a ditadura militar da década de 1960 — se reuniram no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, para protestar”. A reportagem também relembrou declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o julgamento de Bolsonaro, as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e as sanções a Moraes.
“Duas semanas atrás, manifestantes de direita desfraldaram uma enorme bandeira dos EUA durante um protesto em São Paulo, com muitos agradecendo a Trump pelas sanções contra o Brasil”, disse a ABC. “No domingo, a esquerda buscou contrariar esse simbolismo hasteando uma bandeira gigante do Brasil na mesma avenida. Cartazes, camisetas e adesivos não apenas rejeitaram a anistia e ampliaram as proteções aos parlamentares, como também reafirmaram o orgulho nacional e defenderam a soberania do Brasil em resposta às sanções de Trump.”
A agência de notícias francesa Agence France-Presse (AFP) relatou que, na Praia de Copacabana, “multidões cantavam junto enquanto um boneco inflável de Bolsonaro usando listras pretas e brancas da prisão balançava ao lado de um boneco do presidente dos EUA, Donald Trump, que puniu o Brasil com tarifas em retaliação ao processo contra seu aliado”, enquanto “na megalópole de São Paulo, manifestantes desfraldaram uma bandeira gigante do Brasil, em resposta a uma bandeira dos EUA exibida em uma marcha pró-Bolsonaro neste mês”.
“Vários deputados recorreram às redes sociais para se desculpar por votarem no polêmico “Projeto de Lei de Blindagem”, dizendo que enfrentaram pressão para fazê-lo em um parlamento fragmentado”, continuou o texto, concluindo: “Ambos os projetos enfrentam uma batalha árdua no Senado. Lula prometeu vetar o projeto de anistia. Ele também disse que o “Projeto de Lei de Blindagem” não era o tipo de “assunto sério” com o qual os legisladores deveriam lidar”.
