Marco Antonio de Biaggi, 60 anos, é há tempos um dos cabeleireiros de mais sucesso entre celebridades. De origem humilde, ele conseguiu construir um império – comandou um salão que chegou a empregar 150 profissionais e estrelou capas de revistas – o que o colocou no topo do universo da beleza no Brasil. Mas ao enfrentar o câncer (linfoma agressivo diagnosticado há cerca de 10 anos), precisou se reinventar, encontrando novos propósitos e transformando a trajetória pessoal em uma missão. Hoje, divide seu tempo entre palestras motivacionais, nas quais compartilha sua trajetória de superação, e o trabalho de influenciador nas redes sociais, papel que lhe rendeu o prêmio iBest, considerado o “Oscar digital”. Em conversa com a coluna GENTE, ele fala do processo de reconstrução e a nova forma de enxergar a vida depois de tudo que viveu.
Você tem se dedicado às palestras. Como começou essa nova fase? Depois do câncer, me tornei palestrante. Já palestrei para milhares de médicos, para empresas, e até em Milão, para uma grande marca de cosméticos. No Brasil, já fiz centenas. Tenho duas principais: uma sobre a humanização do médico e outra baseada no meu best-seller A Beleza da Vida, em que conto minha trajetória, de um menino pobre até construir um império, e ser um dos primeiros brasileiros na Sephora. No auge, descobri o linfoma, perdi 40 quilos em quase seis meses, fiquei entre a vida e a morte. Tive que reaprender a andar e a viver. Voltei a trabalhar depois de um ano e me reinventei no digital.
Quando tomou coragem de compartilhar sua história e inspirar outras pessoas? Foi quando acordei do coma. Com 40 quilos a menos e seu andar, pensei: “O que vou fazer agora?”. Passei um filme da minha vida na cabeça e decidi que não nasci para a síndrome do “pobre de mim”. Resolvi ser palestrante. Nesse meio tempo, enquanto estou me preparando, saí na capa da VEJA São Paulo — o ápice pra um paulistano. E o retorno foi tão grande que a editora Abril decidiu publicar minha biografia. A partir daí, comecei a palestrar para todos os tipos de público, de 100 pessoas a 2.500 médicos, inclusive de graça, em hospitais. É gratificante poder impactar vidas.
Qual foi o maior desafio nesse processo de reconstrução? Aceitar que andaria de bengala, talvez a vida inteira, e que isso não mudaria a essência do que eu era. Além disso, vi que o mercado mudou. Eu, que era o “rei das capas”, já tinha feito mais de mil capas de revistas, percebi que o mundo estava indo para o digital. Aprendi a usar o X, depois o Instagram. Descobri que as pessoas não gostam de seguir marcas – querem seguir histórias reais. Então, tanto posto um café da manhã no Copacabana Palace quanto um pastel na feira. A vida é isso: não pode ser só caviar, nem só pastel.
E como foi sua adaptação ao digital? Foi natural. Hoje, tenho mais de 3 milhões de seguidores no Instagram e ganhei o prêmio Best, o Oscar Digital. Recentemente, um vídeo meu sobre o corte “butterfly”, inspirado nas Panteras, viralizou com 20 milhões de visualizações, e voltei a cortar cabelo como antes, no meu auge. Pensei até em desacelerar, mas Deus me mostrou que ainda tenho muito a fazer. O digital é o novo mercado do luxo: é onde você cria conexão e influência de verdade.
Falando em luxo, o que essa palavra significa para você? Luxo, para mim, é tempo. É poder sentar num café dentro de uma livraria, folhear dois livros, tomar um expresso duplo e observar o mundo. Antes, eu era tão estressado que atravessava a rua para não falar com conhecidos, com medo de atrasar os clientes. Hoje, paro, escuto… Pode ser uma mensagem do universo através dessa pessoa. Valorizo o simples. Não uso filtros nas minhas fotos. Enquanto muita gente vende procedimentos caríssimos, mostro misturinhas acessíveis que funcionam. Posto “look de rica gastando pouco” e viraliza, porque é real. Muitas seguidoras dizem: “Não posso cortar com você, mas uso seu shampoo, é sua mão na minha cabeça.” Isso é o que importa.
Está realizado? A vida é feita de sonhos. Quando você realiza um, já tem que ter outro, senão entra em depressão. O que importa é o caminho. Se você quer escrever um livro, começar um podcast, montar um negócio… Comece agora. A repetição te faz um expert. Ganhar um prêmio digital aos 60 anos, competindo com jovens de 20, foi simbólico pra mim. Mostra que sempre dá para recomeçar.