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A pesquisa que não derruba Lula nem resolve seu problema

A fotografia capturada pelo Paraná Pesquisas nesta reta final de 2025 não é favorável ao governo Lula; nem devastadora. A desaprovação segue numericamente superior à aprovação, com um patamar negativo que oscila acima de 50%. Todavia, o que chama a atenção do Palácio Planalto não é a proporção fria, mas a estabilidade revelada pela repetição dela – aliada ao fato de que, mesmo sob avaliação ruim, Lula continua liderando os cenários eleitorais.

Há nos números um paradoxo que a equipe presidencial conhece bem. O governo é visto como ruim ou péssimo por uma parcela expressiva do eleitorado, enquanto a avaliação positiva permanece comprimida. Ao mesmo tempo, não há colapso, visto que o desgaste estancou (a curva deixou de cair) – o que, para um governo que atravessou o ano sob pressão política e fiscal, já é um ganho efetivo.

Essa leitura ajuda a explicar por que o Planalto evita o tom de urgência pública, não obstante o incômodo privado. É nesse espaço estreito – entre o desgaste controlado e a recuperação ainda inexistente – que se constrói a estratégia para 2026.

A aposta central, dentro do governo, é de que a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda funcione como um ponto de inflexão perceptível para a classe média – segmento que hoje se mostra mais refratário ao Planalto. A avaliação é que o impacto não será imediato, mas tende a se consolidar ao longo do primeiro semestre, com reflexos mais claros até agosto.

Para além da renda disponível, o cálculo político envolve narrativa. Ao mexer no Imposto de Renda, o governo tenta reconectar sua imagem a uma ideia clássica do lulismo: melhora concreta da vida cotidiana, traduzida em dinheiro no bolso (não em abstrações macroeconômicas). Assim, pretende-se deslocar o debate da avaliação genérica do governo para a experiência individual do eleitor.

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Os recortes da pesquisa reforçam tal lógica. O Nordeste permanece como base sólida de aprovação, enquanto o Sul, o Sudeste e o bloco Norte-Centro-Oeste concentram a rejeição. Entre evangélicos, a desaprovação é ampla; entre católicos, a divisão é menos desfavorável. Os dados que indicam onde há pouco a perder e onde há espaço para recomposição.

Nada disso transforma números ruins em bons. Mas ajuda a explicar por que, mesmo mal avaliado, Lula segue favorito. A oposição ainda não conseguiu converter a insatisfação difusa em maioria política organizada. E o governo, mesmo pressionado, mantém instrumentos para tentar reverter parte do mau-humor social.

A pesquisa não sinaliza recuperação: sinaliza tempo – um ativo estratégico para Lula e o PT. Resta saber se a aposta fiscal será suficiente para convertê-lo em vantagem política antes que a campanha comece de fato.

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