Na segunda-feira, dia 25, o presidente do PP, Ciro Nogueira, divulgou nas suas listas de WhatsApp uma queixa sobre pesquisas eleitorais. Principal contratante da Paraná Pesquisas, Nogueira usava argumentos falsos para reclamar dos resultados de outra empresa que mostravam vantagem do presidente Lula da Silva em simulações de segundo turno. O inusitado era que os números que Nogueira consideram subestimados eram os do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que nem é do PP, nem é oficialmente candidato a presidente.
Horas mais tarde, durante evento com empresários, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, afirmou que para ser candidato a presidente, Tarcísio teria de sair do Republicanos. “Num recente jantar com governadores, ele falou na frente de cinco: ‘Sou candidato a governador, mas se eu for candidato a presidente, eu vou para o PL’”, contou Valdemar.
Na noite da mesma segunda-feira, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, reagiu. “Ano que vem teremos eleições gerais. Seremos um dos poucos partidos a existir depois das eleições. Para isso, vamos ampliar nossas bancadas de deputados estaduais e federais e senadores. E, quem sabe, se a conjuntura dos acontecimentos permitir, teremos um candidato à Presidência da República. Não é, Tarcísio?”, disse. O governador apenas sorriu.
O desembaraço com que os líderes do Centrão falaram abertamente da candidatura de Tarcísio na semana anterior do julgamento de Jair Bolsonaro é um sintoma da fraqueza política do ex-presidente. Detido em prisão domiciliar, prestes a ser condenado, sem aparente capacidade de mobilização popular, Bolsonaro está à deriva. Como mostram todas as pesquisas, a ação de Eduardo Bolsonaro pelas sanções comerciais americanas contra o Brasil transformou a família em lixo tóxico. Os líderes do Centrão aguardam apenas o fim do julgamento para arrancar de Bolsonaro um apoio formal a Tarcísio.
“O problema é a completa falta de humanidade diante do que está ocorrendo com quem os possibilitou alçar voos, numa imposta situação vexatória junto de outros milhares e milhões de brasileiros, enquanto fingem normalidade exatamente no momento em que o STF prepara o maior teatro já visto na história do Brasil”, escreveu o filho Carlos Bolsonaro no X.
Maior responsável pela queda, Eduardo Bolsonaro insiste em ser ele mesmo o candidato. Trechos da sua entrevista ao portal Metrópoles na sexta-feira:
“Se o meu pai não puder se candidatar, eu gostaria de sair candidato. Se o Tarcísio vier para o PL, o que vai acontecer? Eu teria que ir para outro partido”.
“Da maneira que as coisas estão caminhando, existe um direcionamento para apagar a família Bolsonaro do cenário político. É o Bolsonaro preso, censurado; os filhos sem poder concorrer. Se continuar nessa batida, vão me colocar centenas de anos de cadeia para eu não poder voltar ao Brasil, e o máximo que vamos conseguir será alguém da família virar senador ou deputado, mas totalmente fora do jogo”.
“Eu me pergunto: para que a pressa (para definir o candidato da direita)? Só há uma resposta lógica: o julgamento é a faca no pescoço de Jair Bolsonaro, é o ‘meio de pressão eficaz’ para forçar Bolsonaro a tomar uma decisão da qual não possa mais voltar atrás”.
“Se ele (Tarcísio) for eleito presidente, fica difícil termos participação (no governo). Qual é o secretário bolsonarista que existe no governo Tarcísio? Não tem”.
Lula da Silva também já dá Tarcísio como certo. “Nós temos que reconhecer que o Bolsonaro tem uma força no setor de extrema direita muito forte. O Tarcísio vai fazer o que o Bolsonaro quiser. Até porque, sem o Bolsonaro, ele não é nada. Ele sabe disso”, afirmou o presidente em entrevista à rádio Itatiaia.
Tanta exposição é um risco para Tarcísio. O bolsonarismo é especialista em autofagia de aliados acusados de traição, como ocorreu com os ex-governadores João Doria e Wilson Witzel. O governador é o favorito do Centrão, mas sem o aval de Bolsonaro, não tem o controle da direita. Na sexta-feira, ele confirmou que irá na manifestação pró-Bolsonaro do Sete de Setembro e voltou a defender o antigo chefe com uma declaração que não significa nada:
“Não sei o que vai acontecer (no julgamento), o que sei é que o Bolsonaro é inocente. A gente tem conversado muito com lideranças acerca da tramitação do projeto de lei da anistia como um fator de pacificação. Eu acho que dá para se construir um ambiente para aprovar isso, é algo que na história do Brasil já aconteceu diversas vezes”, disse. No mundo real, o Centrão não pretende aprovar uma anistia que permita a Bolsonaro ser candidato em 2026.
Na terça-feira, dia 26, em uma festa da Associação Paulista de Municípios, o governador participou de um jogo de futebol com prefeitos. O árbitro era o principal articulador político de Tarcísio, o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Com o reforço do ex-jogador Cafu no seu time, o governador fez o gol da vitória. Numa cobrança em dois toques, Tarcísio invadiu a área e fez um gol irregular que ninguém contestou. A onda pró-Tarcísio é tamanha que até o time adversário comemorou o gol.