counter A nova tributação que pune quem investe – Forsething

A nova tributação que pune quem investe

O Projeto de Lei nº 1.087, de 2025, trouxe uma boa notícia e um grande problema. De um lado, o governo finalmente propôs uma correção relevante na tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, elevando a faixa de isenção total para rendimentos de até R$ 5 mil mensais e proporcionalmente até R$ 7.350,00. De outro, o projeto embutiu uma armadilha para quem ainda acredita no país: a criação de um imposto de renda de até 10% sobre lucros e dividendos distribuídos a pessoas físicas.

À primeira vista, a ideia parece justa. Afinal, em um país marcado pela desigualdade e pela concentração de renda, cobrar mais de quem ganha mais soa natural. O problema é que a proposta atinge também quem investe, reinveste e gera empregos — justamente quem aposta no longo prazo e depende de segurança e previsibilidade para continuar produzindo. Em vez de diferenciar o especulador do empreendedor, o texto coloca todos no mesmo balaio.

Uma alternativa simples e justa veio da Emenda 77, apresentada pelo senador Mecias de Jesus. Ela propõe isentar de tributação os lucros e dividendos de empresas que comprovem ter reinvestido, nos cinco anos anteriores, em bens de capital — aquelas que aplicam no próprio crescimento e sustentam a economia real. A lógica é simples: quem reinveste não é especulador. Deve ser estimulado, não punido.

Para essas empresas intensivas em bens de capital, a insegurança não é novidade. O próprio texto da Reforma Tributária prometeu desonerar a aquisição de máquinas e equipamentos da incidência do IBS e da CBS, mas até agora o governo não editou o ato que define quais bens seriam beneficiados nem o prazo de aplicação da medida. Enquanto isso, os investimentos seguem represados e a incerteza prevalece.

O Brasil alcançou, em 2024, a maior carga tributária de sua história: 32,3% do PIB, segundo o Tesouro Nacional. É um número que fala por si quando comparado ao de países que competem conosco por investimentos, como México (17,7%), Índia (17,1%), Chile (20,8%), Colômbia (22,2%), Turquia (24,5%), Uruguai (27,4%) e até a Argentina (27,8%).

Continua após a publicidade

Enquanto esses países reduzem tributos para atrair fábricas, empresas e empregos, o Brasil insiste em elevar a taxação sobre o capital produtivo — aquele que compra máquinas, amplia infraestrutura e paga salários. A tributação corporativa por aqui já sofre a incidência de 34% de IRPJ e CSLL, além de outros tributos igualmente elevados. Se a empresa recorrer a capital de terceiros, enfrenta uma das maiores taxas de juros reais do mundo e ainda paga IOF majorado, por este governo, para 3,38%. Agora, o governo quer mais: tributar também o que sobra — o dividendo.

Enquanto o empreendedor vê seu lucro corroído por tributos e juros, o investidor em renda fixa pode dormir tranquilo, recebendo até 15% ao ano com tributação mínima ou sem tributação. Onde está a justiça nisso?

Sem a contrapartida prometida de redução das alíquotas do IRPJ e da CSLL, a tributação de até 10% sobre dividendos não atinge apenas “os ricos”. Atinge em cheio quem gera emprego, quem produz, reinveste e aposta no país.

Continua após a publicidade

Ainda que a tramitação do projeto no Senado deva ocorrer de forma açodada e com pouco espaço para diálogo, a Casa não pode se omitir de aperfeiçoar o texto e, ao menos, mitigar os efeitos negativos da proposta sobre os empresários que investem e acreditam no Brasil. Mesmo quando o soneto já está pronto, ainda há espaço para emenda.

A justiça fiscal deve caminhar lado a lado com a racionalidade econômica. Não há redistribuição possível se a base produtiva for desestimulada. Tributar o investimento é cortar o galho em que o país está sentado.

Se o objetivo é combater desigualdades, o caminho não é estrangular quem gera riqueza, mas fortalecer quem transforma capital em emprego, infraestrutura e progresso. Em um mundo em disputa por cadeias produtivas, o Brasil precisa escolher se quer ser palco de negócios ou espectador das oportunidades que fogem para fora. Por enquanto, seguimos cobrando caro de quem ainda insiste em acreditar no país.

Publicidade

About admin