counter A nova buena onda do maior exportador de vinhos para o Brasil – Forsething

A nova buena onda do maior exportador de vinhos para o Brasil

De uma ponta a outra do seu território, o Chile vai do clima desértico do Atacama ao frio extremo de Puerto Williams, a cidade mais ao sul do mundo, última parada antes do ingresso na rota rumo ao continente antártico. O mercado de vinhos do país também é conhecido por dois extremos. Em uma das pontas, a indústria local faz sucesso com os chamados “reservados”. Eles raramente têm um sabor especial, mas quase sempre conquistam clientes, sobretudo no Brasil, graças aos preços convidativos. No extremo oposto, os chilenos produzem vinhos de alta gama, que vêm se destacando em competições internacionais, como Almaviva, Don Melchor, Seña e Família Chadwick, com seus potentes Cabernet Sauvignon.

Agora, a emergente e inquieta indústria chilena quer conquistar espaço no chamado segmento premium, essa imensa camada intermediária e altamente lucrativa, entre 100 reais e 800 reais. “Em 2024, aproximadamente 10% do valor das importações de vinhos chilenos corresponde a garrafas com preço médio de venda acima de R$ 200”, diz Angélica Valenzuela, diretora comercial do Wines of Chile, organismo oficial de promoção dos vinhos do país no mundo. Ela foi responsável pela abertura do Wines of Chile Grand Tasting 2025, realizado no último dia 14, em São Paulo. Na ocasião, foram apresentados, para grupos de especialistas, rótulos de 24 diferentes vinícolas (o país tem cerca de 800). No evento, sediado pelo segundo ano consecutivo no elegante Rosewood Hotel, participei de uma masterclass com dezesseis vinhos de diversas regiões. Alguns dos destaques foram justamente os rótulos com que os chilenos querem conquistar espaço no segmento premium.

Avançar nessa área nos próximos anos é um passo fundamental para manter o ritmo de evolução das exportações. No país que tem 124 mil hectares de vinhedos plantados (o Brasil possui 83 mil hectares), nada menos que 75% da produção é destinada a mercados estrangeiros. Todos os dias, 21 milhões de taças de vinho chileno são consumidas no mundo, segundo dados do Wines of Chile. A expectativa para 2025 é que esse número seja ainda maior.

O Brasil é peça fundamental nessa contabilidade, pois hoje é o principal destino das exportações de vinho andino (à frente dos Estados Unidos, que ocupam a segunda posição nesse ranking). Para se ter uma ideia do volume de comércio, em 2024 chegaram ao Brasil 8,1 milhões de caixas de vinho chileno (cada uma contendo 12 garrafas). Em 2025, de janeiro a junho, já foi registrado um aumento de 6,67% em valor e 11,6% em volume de exportação, em comparação ao mesmo período de 2024. A conquista do mercado brasileiro ocorreu há pouco mais de duas décadas. “O Chile assume a liderança em 2003, deixando para trás França e Itália, consecutivamente”, diz Angélica Valenzuela. “No ano seguinte, em 2004, o Brasil já importava aproximadamente 89 milhões de dólares em vinhos. Desde então, o Chile manteve a primeira posição, com 25% de participação, enquanto a Argentina se consolidou como a segunda principal origem”, completa a diretora do Wines of Chile.

Alguns fatores foram fundamentais para essa pole position, entre eles os valores dos vinhos (que ficaram conhecidos pela boa relação custo-benefício), os acordos comerciais que reduziram tarifas de exportação e as condições climáticas (barreiras naturais, como a cordilheira dos Andes e o clima, permitem produções consistentes e sem quebras). A cereja do bolo ficou por conta dos problemas econômicos e políticos dos nossos hermanos argentinos, incluindo alta inflação, instabilidade cambial e dificuldades econômicas, que impactaram a produção e exportação de vinhos argentinos, facilitando a entrada do Chile no mercado brasileiro.

Continua após a publicidade

A maior parte dos vinhos andinos nas prateleiras brasileiras ainda é composta pelos de menor custo – os famosos “reservados”. Por isso, o esforço daqui em diante será expandir as vendas dos rótulos premium. Pela qualidade do que pude experimentar no Wines of Chile, o avanço nesse segmento intermediário tem grandes chances de ser bem-sucedido.

Confira a seguir três dos vinhos dentro dessa faixa de preços que me chamaram a atenção no evento:

  • Pircas Cabernet Sauvignon 2021, Perez Cruz – R$ 320. Um Cabernet Sauvignon (96%) com pitadas de Petit Verdot e Cabernet Franc, do Vale do Maipo. O vinho envelhece 18 meses em carvalho francês de primeiro, segundo e terceiro uso, e 10% em cubas ovais de concreto. A acidez bem marcada e o frescor fazem dele um vinho muito gastronômico.

  • Baronesa P. 2022, Escudo Rojo – R$ 780. Elegância extrema e taninos que fazem carinho na boca são as características desse Cabernet Sauvignon (83%), Carménère, Petit Verdot, Cabernet Franc e Syrah, produzido em homenagem à Baronesa Philippe de Rothschild.

  • Zippora 2019, Odfjell – R$ 690. O nome do vinho é uma homenagem ao primeiro navio da companhia de navegação da família sueca que se estabeleceu no Chile. Esse blend de Carignan (34%), Carménère (22%), Tannat (18%), Tempranillo (10%), Petite Syrah (8%) e Cabernet Sauvignon (8%) passa dois anos em barricas grandes de carvalho e parte do mosto em esferas de concreto. Orgânico, sustentável, delicado e equilibrado.

Publicidade

About admin