O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriu a possibilidade na quarta-feira 15 de uma mudança política na Venezuela após autorizar a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) a conduzir operações secretas na nação sul-americana. A movimentação segue uma longa lista de intervenções no cenário político da América Latina.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os EUA colocaram em funcionamento uma série de operações para destituir líderes de esquerda na região, em uma ação que, embora estivesse situada no contexto da Guerra Fria e na disputa entre capitalistas e socialistas, também encontrava eco na ideia da “América para os americanos” do presidente James Monroe (1758-1831).
Fundada em 1947, a CIA se tornou parte fundamental no combate americano a qualquer ideologia avessa àquilo que Washington entendia como “democracia, república e liberdade”, fornecendo apoio a regimes aliados — incluindo diversas ditaduras — e muitas vezes tentando viabilizar condições de realizar mudanças de regime em países vistos como não aliados.
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Brasil
Documentos indicam que a CIA acompanhava de perto a política brasileira após a vitória de João Goulart à Presidência, em 1961, por temores com a plataforma reformista do político, que incluía limitação a lucros multinacionais e nacionalização de empresas. Por meio da agência de inteligência, Washington financiou campanhas de parlamentares da oposição.
Em território brasileiro, um dos momentos de interferência foi a chamada Operação Brother Sam, na qual os EUA chegara a enviar um porta-aviões para ajudar a consolidar o golpe que instaurou a ditadura, em 1964. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) ligados à Comissão Nacional da Verdade publicaram em 2024 documentos que corroboram a interferência na instauração do regime autoritário.
Chile
Em 1970, os chilenos elegeram como presidente Salvador Allende, o primeiro socialista a chegar ao poder de forma pacífica e democrática. As preocupações de que Allende instaurasse um regime favorável à influência da União Soviética fizeram a Casa Branca empreender um processo de sabotagem econômica contra o país e financiar grupos de oposição para derrubar o governo, o que aconteceria em 1973, em um golpe liderado por Augusto Pinochet.
Guatemala
Em 1954, o governo do presidente democraticamente eleito da Guatemala, Jacobo Árenz, foi encerrado após uma força militar liderada por Carlos Castillo Armas e patrocinada pela CIA removê-lo do poder. Washington havia sido pressionado pela United Fruit Company, uma empresa americana que se sentia prejudicada pelas políticas de reforma agrária empreendidas por Árenz.
Cuba
O regime estabelecido por Fidel Castro em 1959 gerou descontentamento em Washington ao longo de toda a segunda metade do século XX. Buscando remover Castro do poder, a CIA treinou exilados cubanos para invadir o país e reestabelecer um governo aliado aos EUA, algo aprovado pelo presidente John F. Kennedy em 1960, na chamada Invasão da Baía dos Porcos. No entanto, a intervenção foi um fracasso após as forças cubanas derrotarem os expatriados.
Operação Condor
Durante a presidência de Gerald Ford, em 1975, os Estados Unidos forneceram suporte e apoio direto a ditaduras militares de direita em seis países sul-americanos para caçar e reprimir dissidentes políticos. A aliança secreta, formada por Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Uruguai e Paraguai, contava com um banco de dados compartilhado para monitorar opositores e suas famílias. Pelo menos 97 pessoas foram assassinadas na época até o término da operação, no início dos anos 80.