Na noite desta segunda-feira 15, o SBT fez uma aposta em sua programação noturna que, na prática, funcionou como uma tentativa de responder à enxurrada de críticas da direita por convidar o presidente Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes para a inauguração — com pompa e circunstância — de seu novo canal de notícias, o SBT News. Quase como uma contraponto à decisão das filhas de Silvio Santos de honrar a visão política contemporizadora do pai, que provocou uma reação estridente de figuras bolsonaristas como o sertanejo Zezé di Camargo, a emissora recebeu o senador e candidato declarado à presidência Flávio Bolsonaro para uma longa e simpática entrevista.
O palco dessa aparição foi ao mesmo tempo previsível e irônico: o Programa do Ratinho. Previsível, porque o apresentador tem notórios laços à direita e não se avexou, como de costume diante de políticos dessa tendência que visitam sua atração, em levantar todas as bolas possíveis e imagináveis para um Flávio Bolsonaro visivelmente à vontade no ar. O filho de Jair Bolsonaro defendeu a anistia para o pai, preso e condenado a 27 anos e três meses de prisão pela chamada trama golpista. Desancou o governo Lula, chamando atenção para casos de corrupção nas estatais federais. E até deu seu pitaco na treta de Zezé di Camargo com o SBT: num tom de morde e assopra, disse que o cantor sertanejo tinha razão com suas queixas, mas devia pedir desculpas à emissora pelo arroubo.
Ver um Ratinho tão entusiástico diante do ilustre visitante era o detalhe que expunha a grande ironia da noite de revanche da direita no SBT. Dentro dos próprios grupos bolsonaristas e do centrão, a candidatura presidencial de Flávio não é lá uma unanimidade, como se sabe. E o apresentador é pai, afinal, do político que vem crescendo como opção a seu nome, correndo por fora no segmento: o governador paranaense Ratinho Júnior. Um sorriso daqui, outro dali, as cenas amenas na noite do SBT escondiam uma disputa discreta — mas real — entre dois DNAs políticos peculiares.
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