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A guerra do delivery: empresas se movimentam para tentar desbancar o domínio do iFood

Os milhões de motociclistas deslizando rapidamente sobre duas rodas com suas mochilas térmicas nas costas representam o pelotão de frente de uma guerra bilionária. As multinacionais que fazem as entregas de refeições movimentaram 1,2 trilhão de dólares na economia global no ano passado — o equivalente a mais da metade do PIB brasileiro — e estão com apetite aberto para devorar concorrentes. O Brasil, com 178 milhões de pessoas vivendo em cidades, está no epicentro da disputa. Em 2024, conforme dados da empresa de pesquisa Statista Market Forecast, o delivery de alimentos gerou 21 bilhões de dólares em negócios no país, 7% mais que no ano anterior. Mas esse número é apenas um aperitivo do que está por vir.

COMPETIÇÃO - Keeta, marca da Meituan: chegada iminente
COMPETIÇÃO - Keeta, marca da Meituan: chegada iminenteVCG/Getty Images

Novos investimentos estão chegando ao país para tentar desbancar o domínio do iFood, líder do setor. Nesta semana, entrou em operação-piloto, em Goiânia (GO), a 99Food, aposta do grupo chinês Didi para invadir o território nacional. Braço da operadora de transportes urbanos 99, a 99Food terá o suporte de 1 bilhão de reais em investimentos. Sob a promessa de reduzir os preços dos pratos no delivery, que superam em até 27% os cobrados nos restaurantes, a companhia já distribui ao seu exército de 400 000 motociclistas jaquetas de couro, capacetes e mochilas térmicas com sua própria marca. A partir do Centro-Oeste, a intenção é chegar velozmente a São Paulo e Rio de Janeiro.

A chave da estratégia da 99Food é não cobrar taxas de entrega para os restaurantes por dois anos, além de garantir diárias de 250 reais para os motoqueiros com alta produtividade. Os retornos dessa ofensiva estão previstos para o médio prazo. “O Brasil dará início ao nosso posicionamento global em entregas de refeições”, diz o presidente da 99 no Brasil, o chinês Simeng Wang. Sob sua gestão, a empresa saltou de 10 milhões para 58 milhões de clientes cadastrados. A companhia promete, para breve, um aplicativo no qual será possível pedir tanto um motorista para uma corrida quanto refeições para comer em casa. “O grande tráfego da 99 vai ajudar a alavancar a 99Food”, resume Wang. Igualmente de capital chinês, a Meituan anunciou a sua entrada em operação no país no segundo semestre, com investimento de 5 bilhões de reais para implantar a marca global Keeta.

AÇÃO GLOBAL - Bloisi, da holandesa Prosus: um dos maiores negócios do setor
AÇÃO GLOBAL - Bloisi, da holandesa Prosus: um dos maiores negócios do setor./Divulgação
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Segundo colocado no ranking brasileiro de delivery, atrás do iFood, o Rappi, de matriz colombiana, prepara suas defesas. No mês passado, o presidente Felipe Criniti anunciou a redução das taxas de até 18% cobradas dos restaurantes e a injeção de 1,4 bilhão de reais no negócio. A intenção é diversificar a base, passando a aglutinar farmácias, supermercados e petshops. “O Rappi quer ser uma solução completa de entregas, não importa o que o cliente precise”, diz Criniti. Titular da Agilizone, empresa de tecnologia de gestão do fluxo de motoboys, Cecília Farias prevê que a reestruturação do setor em todo o mundo está apenas começando. “Com a inteligência artificial, a interação com os hábitos e desejos do público será cada vez maior”, afirma ela.

A guerra global no mercado de entregas está esquentando. No primeiro trimestre, o empresário baiano Fabrício Bloisi, hoje presidente do gigante holandês Prosus — quarta maior companhia de delivery do mundo —, assinou a compra da plataforma europeia Just Eat Takeaway por 4,1 bilhões de euros, cerca de 26 bilhões de reais. Trata-se de uma das maiores transações já registradas no setor. Ex-comandante do iFood no Brasil, Bloisi lidera agora um conglomerado avaliado em 554 bilhões de reais, com participações em uma centena de empresas de tecnologia, entre elas a OLX e o próprio iFood, criado com capital nacional. “O foco é crescimento e, com isso, esperamos gerar mais empregos e receitas em muitas dimensões”, afirma. No Brasil, sob pressão dos investimentos agressivos dos rivais, o iFood anunciou recentemente uma aliança com a Uber, líder entre os apps de transporte no país. A ideia é formar uma poderosa simbiose entre as duas marcas. Com 400 000 estabelecimentos cadastrados em 1 500 cidades e 120 milhões de entregas mensais, o iFood aposta na força dos pequenos e médios negócios para continuar expandindo. Se a guerra do delivery entregar comida mais barata, o consumidor poderá saborear a vitória.

Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948

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