Embora os americanos culpem os republicanos do Congresso pela paralisação do governo nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump recebeu uma boa notícia: sua aprovação subiu para 42%, um crescimento de dois pontos percentuais em relação ao início do mês, mostrou uma pesquisa da agência de notícias Reuters com o instituto Ipsos nesta terça-feira, 21. A visão positiva sobre o republicano se mantém estável desde abril, variando de 40% a 44%.
Em paradoxo, cerca de 50% dos entrevistados culparam a liderança republicana do Congresso pelo “shutdown”, ao passo 43% responsabilizam os democratas. Trata-se da terceira paralisação mais longa da história dos EUA, no seu 21º dia. Os republicanos têm maioria tanto na Câmara dos Representantes quanto no Senado, mas nesse último precisam de votos democratas pra aprovar a legislação orçamentária, palco de disputas entre ambos os partidos.
Os democratas rejeitam dar sinal verde para a legislação sem a extensão dos subsídios para planos de saúde que estão expirando. A ideia é popular, com apoio de 72% dos entrevistados, incluindo quase todos os democratas e metade dos republicanos, segundo o levantamento. Apenas 22% afirmaram que os benefícios devem ser encerrados. Na ala favorável, 60% disseram que eles são importantes o suficiente para justificar a paralisação até que um acordo seja fechado, enquanto 37% indicam que os legisladores deveriam encontrar um caminho para mantê-los após a reabertura do governo americano.
Esta é a 15ª vez que o país entra em “shutdown” desde 1981. Paralisações por disputas orçamentárias são um aspecto único da política americana. Lá, os diferentes poderes do governo precisam chegar a um acordo sobre os planos de gastos antes que eles se tornem lei. Na maioria dos países, as votações são uma espécie de voto de confiança no próprio governo. Mas, como os Estados Unidos têm poderes com pesos iguais e, frequentemente, divididos, esse não é o caso.
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Entenda os impactos
O bloqueio impacta uma variedade de serviços, podendo levar a atrasos em voos e na liberação de documentos de viagem para estrangeiros e à falta de funcionários em parques federais e museus, o que deixa margem para vandalismo se permanecerem abertos a visitação. No último “shutdown”, ocorrido no primeiro mandato de Trump, em 2018, as atividades ficaram suspensas por 35 dias, o período mais longo já registrado na era moderna dos EUA.
A escala dos danos econômicos vai depender, em parte, da duração da paralisação – e de sua abrangência. No geral, analistas esperam que esta possa ser maior do que a última, em 2018. Estima-se que o atual shutdown pode reduzir em cerca de 0,1 a 0,2 ponto percentual o crescimento econômico a cada semana – embora grande parte desse valor possa ser recuperada depois que o governo voltar a funcionar normalmente.
O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) estimou que a paralisação de 2018-2019 reduziu a produção econômica em cerca de US$ 11 bilhões, incluindo US$ 3 bilhões que nunca foram recuperados. A grande diferença, desta vez, é que Trump ameaçou demitir – não apenas afastar temporariamente – alguns trabalhadores, o que tornaria o impacto mais duradouro.
Fora isso, o presidente passou os últimos nove meses cortando drasticamente a força de trabalho federal. O contexto também é mais desfavorável, já que estamos falando de uma economia já afetada por turbulências como tarifas e inteligência artificial, com o provável atraso de dados importantes – como o relatório mensal oficial de empregos dos EUA –, o que deve aumentar a incerteza.