O presidente da Câmara, Hugo Motta, em entrevista à jornalista Míriam Leitão, empregou um verbo que, apesar da aparência banal, traduz uma virada de ciclo em Brasília: “atualizar”.
O parlamentar afirmou que é preciso “dar uma atualizada” na relação entre o Executivo e a Câmara dos Deputados. A palavra, na verdade, carrega o peso de uma transição: a substituição gradual de Arthur Lira por uma nova geração de mediadores.
O governo Lula decidiu reorganizar seus canais de interlocução com o Centrão. As demissões em série de indicados políticos não representam mera retaliação, mas o instrumento da repactuação. Sob o pretexto de “modernizar” a relação com o Congresso, o Planalto testa um novo arranjo de poder, no qual o trator de Lira começa a ser trocado pela conversa mansa de Motta.
O verbo escolhido é revelador: “atualizar”. Nem romper, nem recomeçar, apenas substituir as peças, mantendo a engrenagem – o que significa recalibrar o sistema sem desligá-lo. Em outras palavras: redistribuir cargos, alterar vozes, mas preservar a lógica de sobrevivência mútua entre Executivo e Legislativo.
Arthur Lira foi o engenheiro do modelo anterior, moldado pela força orçamentária e pela pressão direta. Motta surge como a versão mais polida do mesmo código: fala em diálogo, repactuação e estabilidade, mas disputa os mesmos espaços e opera com igual pragmatismo.
E, como em todo software, a atualização não elimina o programa antigo: somente o esconde atrás de uma nova interface.