A segurança pública se consolidou como o principal problema percebido pelos brasileiros — e, segundo José Benedito da Silva, isso coloca a esquerda em uma posição desconfortável. No programa Os Três Poderes, o editor avaliou que parte do campo governista ainda resiste a discutir o assunto nos termos exigidos pela urgência do momento. “Há, sim, uma recusa em aceitar o debate como ele está posto”, afirmou.
A fala veio após a exibição do trecho de entrevista do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, em que ele acusa a esquerda de “negacionismo” ao minimizar o impacto do avanço do crime organizado. Para José Benedito, a crítica tem fundamento: historicamente, o campo progressista evita travar o embate direto sobre endurecimento penal — discurso que a direita maneja com naturalidade.
Realidade impõe pressa
Nos últimos meses, episódios de violência extrema em estados governados pela esquerda — como Bahia e Ceará — expuseram fragilidades. Em Salvador, quase vinte facções disputam território. No interior do Ceará, vilarejos inteiros foram esvaziados por expulsões forçadas de moradores, numa cena que remete, segundo José Benedito, “a práticas da época do cangaço”.
Esses fatos, combinados à megaoperação no Rio e às pesquisas que apontam a segurança como prioridade absoluta do eleitor, tornaram o tema incontornável. “A população quer solução para agora”, disse o editor. “A esquerda não pode seguir discutindo apenas sob a ótica estrutural quando o caos está diante das pessoas.”
Governo chega atrasado ao debate
O principal instrumento do governo, o PL Antifacção, levou seis meses para ficar pronto. Quando chegou à Câmara, foi atropelado pela articulação da oposição, que assumiu o protagonismo. O relator escolhido por Hugo Motta, o bolsonarista Guilherme Derrite, remodelou o texto, renomeou o projeto e incluiu propostas de perfil mais duro — reacendendo o conflito com o Planalto.
A disputa pela paternidade do projeto se intensificou. Em cinco dias, o texto ganhou quatro versões distintas, virou prioridade repentina e, mesmo assim, não avançou: a votação foi adiada para a próxima semana por falta de acordo.
“É a prova de que a eleição já começou”, avaliou José Benedito. Partidos tentam garantir para si o crédito de eventuais soluções e empurrar para o adversário o desgaste do fracasso. “Ninguém está pensando em 2026? É exatamente o contrário”, ironizou.
Um risco eleitoral direto
O governo Lula, diz o editor, está “na defensiva” e ainda preso a respostas lentas, tecnocráticas e refratárias ao discurso punitivista que domina o país. O resultado é um desgaste crescente — e previsível. “A esquerda tem dificuldades históricas nesse tema e vai pagar preço em 2026 se não ajustar o discurso”, afirmou.
Com a economia estável e sem sinais de crise que possam deslocar o foco do eleitor, a segurança seguirá no topo da agenda. E, nesse terreno, a direita está mais preparada. “É um tema incômodo para o governo — mas ele não vai sair de cena.”