Olhos esbugalhados e dentes afiados em um sorriso que cobre quase que a extensão inteira do rosto. Parece descrição de um protagonista de filmes de terror, mas é, na verdade, uma nova febre mundial: os bonecos Labubu, da empresa chinesa Pop Mart. Os pequenos brinquedos colecionáveis caíram no gosto de adultos e crianças pelo paradoxo. Em outras palavras, são tão feios que chegam a ser bonitinhos. Mas a popularidade estrondosa acabou por criar um efeito colateral, e as autoridades estão tendo de lidar com uma onda de pirataria.
Os monstrinhos viraram must have de celebridades, de Rihanna a Lisa, do grupo de K-pop Blackpink. Não tardou para que o grande público mergulhasse na onda e, agora, os bonecos têm sido tão procurados que, no Reino Unido, a Pop Mart retirou o produto das prateleiras pelo alto risco de brigas, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
No território britânico, as feras fofas custam £ 17,50, enquanto são vendidas de 99 a 399 yuans (R$ 76 – R$ 309). Os valores de revenda, devido à demanda monumental, são ainda mais altos. Em meio à procura exacerbada e os estoques esgotados, o mercado pirata logo tratou de preencher o vazio. No centro comercial de Shenzhen, no sul da China, as versões falsas (chamadas de Lafufu) são produzidas a todo vapor.
Cerco à pirataria
O mercado paralelo, contudo, entrou no radar das autoridades chinesas. Em abril, agentes alfandegários da cidade de Ningbo interceptaram um lote de 200.000 produtos suspeitos de violar a propriedade intelectual da Labubu. Outra operação, no mês passado, também apreendeu 2.000 Lafufus. O motivo para tanta encrenca está no propagandismo da China, que tenta disseminar o seu soft power mundo afora.
“A China nunca esteve tão determinada a combater os roubos de PI (propriedade intelectual), graças à contribuição da Labubu, não apenas como um brinquedo de sucesso global, mas também como uma ferramenta de soft power”, explicou Yaling Jiang, analista de tendências de consumo chinês, ao The Guardian. “Defender a PI da Labubu não é mais apenas uma questão de interesse comercial, mas sim de interesse nacional.”
Em junho, o Diário do Povo, porta-voz oficial do Partido Comunista Chinês, chegou a afirmar que os bonecos conseguiram alcançar um novo patamar, de “Fabricado na China” para “Criado na China”, acrescentando: “A ascensão do Labubu combina a forte base manufatureira da China com a inovação criativa, explorando as necessidades emocionais dos consumidores globais”, disse o elogioso artigo.
A rotina de produção
Apesar do cerco, não é difícil encontrar um revendedor do brinquedo na China. A reportagem do The Guardian conseguiu, “depois de um rápido telefonema feito por um dos vendedores ambulantes de bolsas e relógios de grife falsificados”, ter acesso a uma sacola recheada de Lafufus, vendidos a 168 yuans (R$ 130) por unidades.
Embora existam várias possibilidades de negócios de falsificação, um revendedor, identificado apenas como Li pelo jornal britânico, explicou que recebe carrinhos e mais carrinhos com cabeças dos monstros. Elas são, então, moldadas por uma máquina. Depois, precisam ser cortadas a mão, já que a máquina produz dois bonecos grudados. Idosas, segundo o The Guardian, terminam o processo e ganham 0,04 (R$ 0,031) yuans por peça. Uma delas estimou que divide de 800 a 1.000 cabeças por dia, recebendo até 40 yuans (R$ 31). É, de fato, monstruoso.