Dois destinos separados pelo tempo, mas unidos pela arte. Esta é a essência de O Último Van Gogh (Globo Livros), novo livro de ficção escrito por Edney Silvestre, 75 anos, que será lançado nesta terça-feira, 30, no Rio de Janeiro. Na trama, o autor constrói um encontro improvável entre Vincent van Gogh — o pintor holandês em busca desesperada de reconhecimento em vida — e Igor Brown, jovem michê brasileiro que sobrevive à margem da sociedade. À coluna GENTE, Edney conta que deseja mostrar aos leitores que, assim como os protagonistas, todos “somos um pouco ignorados”. A nova obra chega às livrarias quase três anos após sua saída da Globo, emissora onde trabalhou por três décadas — com coberturas marcantes como os ataques de 11 de setembro de 2001 — e da qual guarda apenas boas lembranças. Na conversa com a coluna, o escritor fala sobre sua fase profissional, avalia a possibilidade de voltar à televisão e explica a candidatura a uma cadeira na ABL (Academia Brasileira de Letras).
Como surgiu a ideia do livro? Em 2014, quando fui visitar uma exposição de Van Gogh em Paris, Van Gogh, o suicidado pela sociedade, que me deixou bastante emocionado, e comecei a estudar sobre a história difícil dele. Na época, eu já estava escrevendo a história do miché, uma pessoa invisível à sociedade e que vinha daquelas crianças que conheci na Central do Brasil. Naturalmente, as histórias começaram a se cruzar, surgindo essa estrutura: século XIX, século XXI. Eu comecei a perceber que a salvação do Igor Brown, o miché, poderia ser a experiência dolorosa de Van Gogh.
Qual é a mensagem que você quer passar com esse livro? Todos somos um pouco Van Gogh e Igor Brown. Todos somos um pouco loucos, um pouco rejeitados e ignorados. Todos temos aspectos invisíveis aos outros.
Você gosta de escrever mais ficção ou do jornalismo? É diferente. O prazer que eu tinha em estar na redação… Adorava. São universos diferentes. Eu ficava muito feliz na redação, com colegas. Sinto saudades.
Tem saudades da televisão? Não.
Se recebesse um convite você voltaria? Não tenho vontade. Não digo que não voltaria, pois a gente não sabe o que vai fazer na vida.
Quando saiu da Globo você recebeu convites? Tive umas sondagens, mas eu fui muito feliz no meu casamento [com a Globo], mas acabou. E aí não me senti com vontade de ir para outra emissora.
Ficou algum rancor? Nenhum. Fui tratado como um príncipe.
O que você acha dessa nova geração de repórteres? Tem muita gente boa. Vou te dar dois exemplos: Mariana Bispo e Ben-Hur Correia. São extraordinários. Cada um melhor do que o outro, com profundidade, presença no vídeo e carisma. Esta é uma nova geração de estrelas. Não tenho nada a ensinar, só aprender com eles.
Você já se candidatou à ABL. Não tem vontade de tentar novamente? Não, pois não é o meu tempo. Tenho o privilégio de conviver com várias pessoas que são da Academia, mas “não preciso” estar lá. E, neste momento, a Academia está recebendo Milton Hatoum, um dos maiores escritores do mundo. Então, Deus me livre me candidatar perto dele. Não é o meu momento.