Caíram na malha da CPI das Bets transferências milionárias, consideradas suspeitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entre o deputado federal Jadyel Alencar (Republicanos-PI) e um funcionário de duas empresas do parlamentar, que ele afirma ser um administrador “com plenos poderes para movimentação bancária”.
O relatório final da comissão de inquérito apresentado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) nem sequer menciona o alerta do órgão de controle, mas Izalci Lucas (PL-DF) incluiu os dados em sua proposta de voto em separado – uma espécie de relatório paralelo. Tudo seguirá para o Ministério Público Federal e a Polícia Federal (PF) ao fim da CPI.
O funcionário em questão é Gustavo Mendes Lemos de Oliveira, que foi alvo de devassa do Coaf por ter recebido 300.000 reais da One Internet Group em 2023. A empresa pertence ao piauiense Fernando Oliveira Lima, o Fernandin OIG, que a relatora da CPI propôs indiciar por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Além da transferência da OIG, o Coaf detectou, na mesma conta de Gustavo de Oliveira no Banco do Brasil, milhões de reais em movimentações financeiras, tanto de crédito como de débito, com o deputado Jadyel Alencar e suas empresas. O relatório se limita ao intervalo de 15 de junho a 17 de dezembro de 2023.
Nesse período, segundo o Coaf, o deputado federal fez como pessoa física 82 transferências para Gustavo de Oliveira, no total de 5.213.554,06 reais, e recebeu 3.045.587,75 reais em 56 transferências do “administrador” de suas empresas.
A JSA Indústria de Alimentos efetuou 92 transferências para Gustavo de Oliveira, no total de 3.522.136,95 reais, e recebeu do funcionário 3.726.359,74 reais, fracionados em 188 depósitos.
Já a Dimensão Distribuidora de Medicamentos recebeu de Gustavo de Oliveira o total de 553.904,93 reais em 45 transferências.
O Coaf afirma no relatório de inteligência que houve na conta do funcionário do deputado Jadyel Alencar uma “movimentação de recursos incompatíveis com a capacidade econômica, considerando a atividade e renda declarada”, de 7.000 reais por mês em dezembro de 2023.
“Suspeitamos de movimentação de recursos de atividade comercial não declarada em sua conta pessoa física e/ou intermediação de recurso em benefícios de terceiros, incompatível com natureza de conta, com possível intuito de sonegação fiscal”, diz o órgão de controle.
‘Normalidade operacional’
Procurado pelo Radar, o deputado afirmou, por meio de sua assessoria, que Gustavo Mendes Lemos de Oliveira é “administrador” da JSA Indústria de Alimentos e da Dimensão Distribuidora de Medicamentos, e, durante o período abarcado pelo relatório do Coaf, mencionado, atuava também como “responsável financeiro” das empresas, “com plenos poderes para movimentação bancária”.
“Assim, as transferências referidas e quaisquer outras mencionadas entre ele e as referidas empresas decorrem da normalidade operacional e da gestão de recursos das atividades empresariais”, declarou Jadyel Alencar em nota.
Sua assessoria também disse que, “quanto à origem, finalidade ou motivação da transferência feita pela empresa One Internet Group para Gustavo Mendes, não cabe ao deputado emitir juízo, já que não possui qualquer relação comercial, societária ou operacional com a OIG ou seus representantes”.
“O deputado Jadyel Silva Alencar reitera seu compromisso com a legalidade, ética pública e transparência institucional. Ele acompanhará o desdobramento dos fatos com serenidade e atenção, colocando-se à disposição para colaborar com qualquer apuração oficial, nos termos da lei, com respeito ao devido processo legal”, acrescentou.