A ONU costuma ser chamada de irrelevante. Não sem motivo. A história mostra que em momentos importantes, basta um veto de Washington ou Moscou para enterrar qualquer decisão que seja de interesse geral dos demais membros.
Mas, na sexta-feira, 26, um protesto serviu para produzir uma cena histórica. Quando Benjamin Netanyahu subiu ao púlpito, dezenas de delegações, entre elas a brasileira, se levantaram e saíram. Restaram cadeiras vazias, silêncio constrangedor e um “líder” falando sozinho.
O premiê transformou aquele vazio em um palco. Encarnou o protagonista de sua própria peça. Acusou o Irã de liderar um “eixo do terror”, exibiu mapas e cartazes, citou a Bíblia e prometeu “concluir o trabalho” em Gaza. Tudo isso enquanto negava o genocídio que já matou mais de 65 mil palestinos, incluindo milhares de crianças. Entre um número e outro, ainda agradeceu a Donald Trump pelos ataques contra o Irã e atacou líderes mundiais que, segundo ele, “cederam à pressão da mídia tendenciosa e de multidões antissemitas”.
Do lado de fora, o recado foi claro. O protesto diplomático mirava os quase dois anos de ofensiva israelense que já deixaram mais de 60 mil mortos em Gaza. Lula havia chamado o massacre de genocídio na abertura da própria Assembleia Geral: “Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes”.
Dizem que a ONU não serve para nada. Desta vez, serviu para expor ao mundo a imagem de um premiê encenando sua realidade paralela diante de uma plateia que se recusou a assistir.