As imagens são impactantes. Em mais uma volta ao mundo, que se encerra durante a COP30, em novembro, no Pará, a Família Schurmann, primeira família brasileira a completar uma circunavegação a bordo de um veleiro e líder da ONG Voz dos Oceanos, testemunharam, até o momento, a presença de plástico e microplástico em mais de 140 destinos de 11 países. Porém, no Índico, se depararam com uma quantidade imensa de resíduos flutuando e submersos. Diretor da ONG que prioriza iniciativas de proteção dos mares, David Schurmann é o convidado do programa semanal da coluna GENTE (disponível no canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também na versão podcast no Spotify). Ele compara a atuação do governo Lula com o anterior, de Bolsonaro, no que tange a políticas de meio ambiente, fala da presença na COP30 e de que forma os rios poluídos nas grandes cidades afetam os oceanos. David também apresenta as imagens da expedição no Índico. Assista.
PLÁSTICO NOS MARES.
“A ONG Voz dos Oceanos foi fundada há quase quatro anos atrás pela família Schurmann, minha família, muito conhecida pelas voltas ao mundo. Tem muitas gerações que a gente impactou. Sou um daqueles meninos que cresceram pelo mundo, vivendo em veleiro. E há mais ou menos cinco anos, na nossa terceira volta ao mundo, começamos a pensar em como poderíamos ajudar os oceanos. Nos últimos 20 anos, estamos há 41 anos navegando pelo mundo, a gente viu uma mudança muito grande nos oceanos. Principalmente de invasão de resíduos plásticos, invasão de lixo. A gente começou a notar que os oceanos estavam mudando para uma pesca exacerbada, por problema de clima, de corais embranquecendo por causa da acidificação. Somos testemunhas oculares. E quando voltamos da última volta ao mundo decidimos que estava na hora de dar algo de volta e ajudar os oceanos. A gente sabe o tamanho do desafio”.
PARTICIPAÇÃO NA COP30. “Fomos convidados um ano e meio atrás a levar os oceanos para dentro da COP. E a gente sempre falou que precisa levar não só para o bluezone, onde a gente vai ter o lugar de fala, mas para o freezone, a área onde qualquer um pode ter acesso. Onde a gente pode trazer não só um presidente do país, mas um pescador para ter um lugar de debate, falar o que ele está vivenciando. A Voz dos Oceanos vai ter uma casa, Vozes dos Oceanos, onde vamos unir várias iniciativas diferentes. Tivemos uma conversa com o governo do Pará e pleiteamos um lugar especial nessa freezone, onde qualquer um pode ter acesso”.
RIOS POLUÍDOS. “O brasileiro adora o mar para ir à praia no feriado e passar um tempo. Mas se esquece que onde está na cidade, que é muitas vezes longe da praia, seu resíduo vai para os oceanos. Os maiores poluidores hoje dos oceanos são os rios, são como esteiras para onde os resíduos são levados. É a poluição de esgoto jogado nos oceanos. Hoje o oceano não consegue mais dar conta, a gente precisa mitigar isso. É aquela linda história: quando você está dentro da sua casa, não joga o lixo em qualquer lugar”.
LUTA CONTRA PLÁSTICOS. “A gente está com uma PL para passar sobre o plástico de uso único, que está em debate há bastante tempo. É para a gente parar de usar esse plástico que chama de descartável, mas de descartável não tem nada. Você tira, bebe uma vez, joga fora e ela só vai parar em outro lugar. Não vai sumir, vai ficar 400 anos no planeta”.
GOVERNO LULA. “Acho que existe primeiro a vontade e o debate (neste governo). Todo governo que foca no meio ambiente ajuda a criar leis ou tem uma facilidade maior para se criar regras ambientais. Não é uma coisa tipo ‘isso não existe’, ‘isso não serve para nada’. Ao mesmo tempo, existem alguns retrocessos. Exploração de petróleo em bacias e áreas delicadas, por exemplo. A gente vê uma ministra do Meio Ambiente (Marina Silva) sendo atacada no Congresso. E isso não é só no governo Lula. A gente precisa olhar a longo prazo o planeta. Elon Musk quer ir morar lá em Marte, acho ótimo. Mas o planeta que temos hoje é esse. Não é só pensar em extração, não é só explorar o planeta”.
TRUMP CONTRA FLORESTAS. “Foi um retrocesso gigantesco (a eleição dele). Isso é uma unanimidade no mundo. É um retrocesso ambiental a política do Trump, 100% focada na economia. E vem o velho ditado: a hora que a gente não conseguir mais comer dinheiro, nem respirar dinheiro, nem viver em lugares que o dinheiro nos proteja, a gente vai entender que dinheiro não é tudo. Sentimos o retrocesso, mas ao mesmo tempo, essa chacoalhada tirou muita gente (do marasmo). As empresas só mostravam a fachada. ‘Sou amigo do meio ambiente’; e na verdade não era nada. Agora retiraram isso com o Trump”.
Sobre o programa semanal da coluna GENTE. Quando: vai ao ar toda segunda-feira. Onde assistir: No canal da VEJA no Youtube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus ou no canal VEJA GENTE no Spotify, na versão podcast.