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Energia renovável em alta, mas confiabilidade ainda é desafio no Brasil

O Brasil vive uma contradição no setor elétrico: ao mesmo tempo em que ostenta uma das matrizes mais limpas do mundo e cresce na geração renovável, enfrenta dificuldades crescentes para garantir confiabilidade no abastecimento. Essa foi a avaliação de dois especialistas no Veja Fórum de Energia, Mauricio Tolmasquim, referência em energia, e Reynaldo Passanezi, presidente da Cemig.

Mauricio Tolmasquim chamou atenção para os impactos operacionais da rápida expansão da geração solar no país. “Vivemos hoje um paradoxo: o Brasil tem uma das matrizes mais limpas do mundo e excesso de oferta, mas ainda enfrenta riscos de confiabilidade em determinados momentos do dia”, afirmou. Ele explicou que o sistema já lida com situações críticas em dois turnos: “Ao meio-dia, a geração solar dispara e a carga líquida despenca. O resultado é que o sistema precisa cortar a energia de algumas fontes renováveis para evitar risco de colapso. No fim da tarde, acontece o contrário: o sol desaparece, a demanda dispara e não temos fontes flexíveis suficientes para atender a esse aumento.”

Para o especialista, esse problema é ao mesmo tempo operacional e econômico. “O sistema é forçado a desligar usinas que receberam investimentos acreditando que operariam de forma contínua”, disse. A saída, segundo ele, passa por cinco medidas estruturais: “armazenamento de energia, plantas flexíveis, expansão de linhas de transmissão, gestão pelo lado da demanda e avanços operacionais do ONS.” Tolmasquim ressaltou que as fontes limpas são uma conquista, mas precisam ser integradas com mais planejamento. “O desafio é que essas fontes estão entrando de maneira meio anárquica, sem que o sistema esteja preparado para integrá-las de forma racional.”

Já Reynaldo Passanezi reforçou a necessidade de modernizar as redes para enfrentar o cenário climático e operacional. “A gente precisa de energia limpa, barata e confiável. E confiável no sentido mais amplo: é a licença social do setor elétrico, porque a imagem pode ser comprometida pela incapacidade de lidar com eventos climáticos extremos”, disse. Ele destacou que o país tem uma matriz de 95% renovável, mas alerta: “Não há como enfrentar as mudanças climáticas com uma rede 60% depreciada. Por isso estamos realizando o maior programa de investimentos da história da Cemig.”

Segundo o presidente da estatal mineira, a empresa prevê R$ 59 bilhões em aportes até 2029, com foco em digitalização, automação e renovação da rede. “Hoje temos o programa Mais Energia, com 200 novas subestações, o equivalente a 70 anos de obras em sete. Também estamos construindo 30 mil km de rede trifásica para dar mais resiliência, especialmente ao agro”, explicou. Passanezi reforçou ainda a importância da infraestrutura frente a subsídios. “Prefiro que a gente invista em transmissão e distribuição do que continuar dando subsídios. Isso tem impacto, claro, mas traz muito mais retorno em qualidade de serviço.”

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O executivo também citou medidas para aumentar a resposta a eventos extremos, como a ampliação da manutenção preventiva e o fortalecimento das equipes de emergência. “Ampliamos a capacidade de mobilizar equipes terceirizadas multifuncionais, que podem atuar imediatamente em situações críticas”, afirmou.

As falas de Tolmasquim e Passanezi convergem em um ponto central de que o Brasil tem uma posição privilegiada na transição energética global, mas precisa ajustar sua infraestrutura e seu modelo de gestão para garantir que a abundância de fontes limpas se traduza em segurança, eficiência e tarifas competitivas para o consumidor.

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