As diferenças entre os presidentes do Brasil, Lula, e dos Estados Unidos, Donald Trump, são notórias. O brasileiro é a maior liderança da esquerda na América Latina, defende a regulação das Big Techs e é entusiasta dos organismos multilaterais. Já o norte-americano é farol da direita mundial, sobretudo a mais radicalizada, faz lobby contra a imposição de regras às plataformas digitais e despreza entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Há uma extensa lista de outros exemplos das divergências entre os dois. Uma delas diz respeito à condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes, incluindo organização criminosa armada. Como se sabe, Trump, numa tentativa de livrar o aliado Bolsonaro da cadeia e as grandes empresas de tecnologia de qualquer regulação no Brasil, impôs um tarifaço às exportações brasileiras, iniciando uma queda de braço com Lula.
Desde julho, quando a sobretaxa foi anunciada, o governo brasileiro tentou atenuar a medida. Com a ajuda de empresários, a gestão petista até conseguiu tirar alguns setores da economia brasileira da lista do tarifaço, mas fracassou na tentativa de abrir um canal de diálogo com a administração Trump. Aparentemente, a situação começou a mudar na Assembleia Geral da ONU, quando os dois presidentes se encontraram e trocaram cumprimentos e umas poucas palavras por menos de um minuto.
Trump disse que rolou uma química com Lula. Este, por sua vez, admitiu que pintou um clima. E ambos combinaram de finalmente conversar.
Objetivo comum
Se ocorrer, a conversa deve tratar do tarifaço e da situação jurídica de Bolsonaro, assuntos que por enquanto colocam os dois mandatários em lados opostos, além de parcerias comerciais, que podem aproximar os dois países. Eles também podem abordar temas candentes da agenda internacional, como a invasão da Rússia à Ucrânia e a ação militar de Israel na Faixa de Gaza, em resposta ao ataque terrorista do Hamas.
Lula e Trump têm posições divergentes sobre esses dois casos. O governo brasileiro, por exemplo, defende o reconhecimento do Estado Palestino, algo rechaçado pela gestão norte-americana. Em seus discursos da ONU, os dois presidentes mencionaram a crise em Gaza. Lula criticou um suposto genocídio cometido por Israel na região. Já Trump exortou o Hamas a libertar os reféns israelenses.
Desde o início de seus novos mandatos, ambos trabalham para ter reconhecimento internacional. E ambos nutrem o mesmo sonho: receber o Prêmio Nobel da Paz. Vem daí outra semelhança: hoje, a honraria parece distante — muito distante – tanto para Lula quanto para Trump.