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Uma trégua, não um acordo

A ‘química’ dos 39 segundos da promessa de encontro futuro entre os presidentes Donald Trump e Lula da Silva na sala de espera do auditório da Organização das Nações Unidas não foi acidental. Nas semanas anteriores, como revelou o repórter Felipe Frazão, do Estadão, houve uma intensa operação diplomática para desescalar a tensão entre os dois países.

No dia 11, o vice-presidente Geraldo Alckmin, conversou por videoconferência com o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer. No dia 15, o assessor especial de Trump Richard Grenell veio a Brasília, incógnito, para uma conversa com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. No mesmo período, como informou a Folha, Trump recebeu na Casa Branca uma comitiva liderada pelo empresário Joesley Batista, maior acionista da JBS, holding que controla as maiores indústrias de carne bovina e de frango tanto nos EUA como no Brasil. 

O muro erguido pela dupla Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foi desmantelado, mas o que se pode esperar de uma reunião Trump-Lula? A resposta mais honesta é uma trégua, não um acordo.

Passados dois meses desde que Trump decretou uma sanção de 50% sobre produtos importados do Brasil (incluindo os hambúrgueres e nuggets da JBS), há um consenso de fracasso na Casa Branca. Levados a Trump pelo conselheiro sênior do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, Ricardo Pita, ex-assessor do senador Ted Cruz, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo previram que a pressão americana iria dividir o STF, mobilizar manifestações nas ruas e forçar o Congresso a aprovar uma anistia ampla para beneficiar Jair Bolsonaro. 

Fora da mente fantasiosa de Eduardo e Figueiredo, mesmo sob ameaça da Lei Magnitsky, os ministros do STF condenaram Bolsonaro, as ruas se encheram contra a anistia e o Congresso titubeia em reduzir as penas dos líderes da tentativa de golpe.  A aprovação do governo Lula subiu e a elite empresarial e política tenta aproveitar a condenação para forçar Bolsonaro a indicar de uma vez o seu candidato em 2026. A mensagem que o encarregado de negócios da embaixada dos EUA em Brasília repete diariamente aos seus chefes é que é preciso outra estratégia.

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Com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo sem o monopólio do acesso a Trump, existe uma possibilidade razoável de a pauta sair da questão Bolsonaro para pontos palpáveis. A arte de recuar sem parecer que está recuando é uma marca de Trump.

De acordo com três fontes do governo americano, a oferta será a inclusão da carne e do café na lista das exceções à tarifa de 50%. É improvável a retirada das sanções da Magnitsky sobre Alexandre de Moraes e sua família.

Do lado brasileiro deve haver a oferta de redução das tarifas de importação de etanol (hoje em 18%) e a abertura para investimentos americanos na mineração de terras raras e datacenters. Para o governo Lula, a taxação das plataformas digitais e um recuo na regulação das redes sociais são tabu.

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É visível o temor dos assessores no Palácio do Planalto com os rumos da conversa entre os dois presidentes. Trump já humilhou o ucraniano Volodymyr Zelensky, fez uma emboscada para o sul-africano Cyril Ramaphosa e massacrou o colombiano Gustavo Petro com uma postagem no X. 

Como disse realisticamente o governador Tarcísio de Freitas em um seminário com empresários, “(Trump) é um presidente que vive da economia da atenção. Que gosta de se sentar com o chefe de Estado, botar um chefe de Estado sentado lá dentro e dizer: ‘Olha, consegui uma vitória’. E ele está querendo colecionar vitórias. Então, por que não entregar algumas vitórias?”.

É impossível imaginar Lula, que fez da soberania nacional o eixo da sua campanha pré-eleitoral, disposto a sair como perdedor. Por isso, um acordo é difícil, mas pode haver uma redução de danos. 

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