Brasília sente a mudança do vento. Embora as pesquisas mostrem uma estabilidade na aprovação do governo e confirmem a polarização calcificada da sociedade, a sensação térmica é de favoritismo da reeleição do presidente Lula da Silva. Ajudado pelos erros grosseiros da oposição, Lula voltou a ser, como nos tempos de Barack Obama, “o cara”.
Nas palavras do presidente Donald Trump “ele parece um cara muito legal. Na verdade, ele… Ele gostou de mim, eu gostei dele, mas… E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto, eu não faço [negócios] quando não gosto da pessoa. Quando não gosto, eu não gosto. Tivemos uma química excelente”. Na definição do francês Emmanuel Macron “é um grande guerreiro”. Até o ucraniano Volodymyr Zelensky, que definitivamente não gosta do brasileiro, forçou uma reunião bilateral para pedir intermediação com a Rússia.
Mas é no Brasil que as placas tectônicas se mexem. As manifestações do domingo, dia 21, mostram que direita perdeu a opinião pública ao apoiar pautas indefensáveis como a PEC da Blindagem, a anistia irrestrita e as sanções americanas. Em três meses, a oposição perdeu o lugar de fala sobre patriotismo, nacionalismo, anticorrupção e defesa da democracia. Hoje, quem de fato decide a pauta da oposição é a dupla Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, com sua campanha anti-Brasil nos EUA, e o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcate com sua pauta única da anistia a Bolsonaro. A oposição só volta para o jogo com menos pastor Silas Malafaia e mais estrategistas como Gilberto Kassab.
Lula tem a seu favor os erros do adversário e trabalha o timing com maestria. A concessão da luz elétrica gratuita para os mais pobres começou em julho, a distribuição de botijões de gás será em outubro, em dezembro os grandes bancos entram no programa de crédito consignado, em janeiro começa a isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil mensais e o aumento de 7% no salário mínimo. O governo ainda busca uma alternativa para aumentar o valor do Bolsa Família e dobrar o número de estudantes que recebem o crédito do programa Pé-de-Meia.
Com a suspensão da campanha Tarcísio de Freitas explicitando a divisão da direita, Lula vai ficar sozinho do palco até o ano que vem, se a oposição tomar juízo e arranjar um candidato único. Como reconheceu o presidente do PP, Ciro Nogueira, “ou nos unificamos ou vamos jogar fora uma eleição ganha outra vez”. É um alerta, mas pode ser um vaticínio.