O presidente Lula tem várias qualidades. Ele insiste, no entanto, em querer dizer quem pode ou não falar em nome dos pobres e de outros grupos minoritários, o que lhe rende muitas críticas e desgaste dentro do campo da própria esquerda.
Ele repetiu esse comportamento em entrevista recente, ao lado da primeira-dama, a um podcast evangélico. Segundo Lula, a maioria dos deputados federais não tem compromisso com os trabalhadores. Ele deu a declaração no contexto em que o governo enfrenta dificuldades para fazer avançar o projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil.
Lula acertaria se dissesse que o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), faz o papel de preposto de seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL). Outro argumento válido é que parte considerável dos 513 deputados apoia anistia para golpistas e pizza para seus pares que cometem crimes, como ficou evidente na aprovação da PEC da Impunidade.
Não cabe a Lula, no entanto, determinar quem fala ou não pelos pobres. Afinal, assim como ele, os deputados foram eleitos pelo voto direto da população, inclusive dos grupos em vulnerabilidade econômica.
De forma semelhante, também recentemente, o governo se prestou ao papelão de indicar os representantes dos povos indígenas aptos a participarem de uma mesa de negociação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o marco temporal, em vez de receberem indicações dos movimentos indígenas.
A um ano da eleição, vários são os desafios da esquerda para reeleger Lula ou outro candidato que for escolhido para enfrentar a direita. Entre os problemas estão alguns comportamentos do próprio presidente.