A evolução na produção agro no Brasil, nas últimas décadas, fez com que passássemos a ser a fábrica de alimentos do mundo. Chama atenção a diversidade do portfólio agrícola, indo de culturas mais “badaladas” como soja, milho, cana, café e laranja, que estampam manchetes pela importância econômica e alimentar, mas também cadeias que começam a ganhar musculatura, como é o caso do sorgo.
A chegada do sorgo da África para o Brasil não foi um caminho de sucesso imediato. Preços 30% mais baixos do que o milho, a crença popular de que a cultura prejudicava a soja plantada em sucessão e a “percepção” de que teria baixo valor nutricional culminavam em uma visão de cereal de segunda linha, atrasando sua expansão. Mas a história mudou com a crescente demanda nacional e internacional.
Tem um papel essencial na nutrição animal, sendo ingrediente para a produção de rações para aves, suínos e bovinos. Também se destaca na produção de biocombustíveis, na forma de etanol de cereais, ou para a indústria de alimentação em alguns produtos.
Os principais produtores globais são os Estados Unidos (10 mi de t), Nigéria (7 mi de t) e Brasil (5 mi de t), sendo o quinto grão mais produzido no mundo. O maior mercado é a China, que produz apenas 3 milhões de toneladas e consome 11 milhões de toneladas, déficit de 8 milhões, abrindo oportunidades para países como o Brasil, Nigéria, Índia e México. Os Estados Unidos foram a principal fonte de compras da China, mas disputas geopolíticas e econômicas entre os dois países nos últimos anos, derrubaram fortemente as compras.
Com o recente acordo firmado com a China, o Brasil pode começar a exportar ainda este ano. A China já participa com um quarto das nossas exportações agrícolas: 70% da soja; 62% da carne bovina; 43% da celulose; 31% do algodão; 16% da carne de porco; 13% da carne de frango vai para a China e em breve o sorgo engordará estas estatísticas.
Algumas usinas de etanol que utilizam o milho também têm utilizado sorgo como matéria-prima. O Brasil já é o segundo maior produtor global do etanol de milho, atrás apenas dos EUA, e ¼ da produção nacional já vem de cereais. No novo empreendimento de etanol de milho da Inpasa em Luís Eduardo Magalhães, o sorgo será protagonista no processamento.

Ficando no oeste da Bahia e citando pesquisas da Oilema Sementes, que tem se especializado no desenvolvimento de sementes de sorgo, um hectare produz 5,1 toneladas em média, com um custo de produção de 2.500 R$ e um resultado de vendas (sacas x preço) a cada hectare de R$ 3.850. Nas últimas 3 safras o sorgo deixou como resultado líquido cerca de 1.350 R$/ha em média, desde que plantado com tecnologia e em época adequada. Mitos de que seu cultivo atrapalha a soja que vem na sequência e de que seu DDG tem elevado tanino, criando problemas na alimentação animal, já ficaram para trás.
É alternativa viável para o cultivo de 2ª safra, em substituição ao milho, por ser uma cultura com menores custos de produção e mais tolerante à seca, reduzindo os riscos ao agricultor. Para estados como Bahia, Piauí e Maranhão que tem restrições ao milho em segunda safra o sorgo pode ser uma alternativa interessante, com grande estoque de áreas para seu cultivo.
A área plantada tem apresentado crescimento significativo, com previsão de atingir 1,6 milhão de hectares em 2025, segundo dados do IBGE, aumento de mais de 275%, desde 2021/2022. A Câmara Setorial acredita que pode chegar a 2 milhões de hectares. Os principais estados produtores são Minas Gerais, Goiás e Bahia, com a região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O sorgo, antes considerado um cereal de segunda linha, ofuscado pelo milho, pode se posicionar como um protagonista. Os recentes acordos comerciais com a China e o avanço da produção de biocombustíveis de cereais, dando previsibilidade e mercado aos produtores, abrem portas para um futuro promissor, com um crescimento expressivo tanto em área plantada quanto em produção. O sorgo ajudará no empoderamento energético do Brasil graças à produção de biocombustíveis, que por sua vez aumentará a produção de carnes com a maior disponibilidade de ração. Em breve surge mais um campeão no agro brasileiro.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em doutoragro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.