A fila de pessoas esperando para provar o torresmo de rolo do Bar do Zezé é a maior na praça ao lado da rodoviária, onde estão algumas das barracas de restaurantes que participam do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Evento tradicional do calendário mineiro, realizado pela plataforma Fartura, o festival reúne chefs mineiros, mas também do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, que levam à cidade histórica algumas de suas criações mais populares. O chef Vitor Martins, do Bar do Zezé, escolheu seu tradicional torresmo, frito na hora e servido em pedaços generosos. Quem sai com o prato na mão é parado por outros interessados em provar o quitute. É nesse clima de celebração da boa comida que o Fartura, depois de passar por Tiradentes na última semana de agosto, segue para Belo Horizonte nos dias 27 e 28 de setembro.

A edição de Tiradentes é a mais famosa – e também a mais antiga. Criada em 1998, acontece desde então e se consolidou como um evento obrigatório da cozinha regional. Mas a plataforma passou a levar a mesma ideia para outras cidades. Depois de BH, entre 11 e 12 de outubro, o evento acontece em Nova Lima, também em Minas Gerais.
As barracas dos restaurantes ficam em duas áreas principais: na praça ao lado da rodoviária e no Santíssimo Resort. Cada uma é ocupada por algum restaurante ou boteco. A maioria é de Minas, mas há outros representantes de outros estados do Brasil. É uma maneira de provar muitos pratos em pequenas porções. O Padre Toledo, de Tiradentes, por exemplo, serviu arroz de galinha com taioba e moela ao molho de vinho, ambos com sabores mais tradicionais e reconfortantes. Já o Gourmeco, também da cidade, oferece o delicioso Cerrado com saudades da praia, camarões enrolados em espaguete e fritos, acompanhados de geleia de pimenta agridoce com pequi.

A programação vai além das barracas. O Festim, que neste ano levou o chef Onildo Rocha a Tiradentes, é um jantar em etapas que aproxima cozinheiros de diferentes estilos. Outros festins paralelos acontecem em restaurantes tradicionais da região, como o Tragaluz e o Angatu. Há ainda feira de produtores locais, que oferecem seus produtos, de cachaças e doces a itens de artesanato. Há ainda shows, discussões e aulas ao vivo – uma oportunidade de ver de perto alguns dos principais chefs do país. Paulo Machado, especialista em cozinha pantaneira, por exemplo, preparou seu macarrão de comitiva, enquanto a chef e influenciadora Ju Lima mostrou sua receita viral de arroz caldoso de fraldinha.
Neste ano, pela primeira vez, o evento se espalhou também para uma das novas vinícolas mineiras, a Trindade, instalada em Bichinho, a poucos quilômetros de Tiradentes. O novo espaço já tem um receptivo para visitantes, cozinha e vinhedos plantados, mas por enquanto eles servem apenas rótulos de outros produtores da região, como Casa Geraldo e Estrada Real, que têm feito bons vinhos usando a técnica da dupla poda (ou poda invertida). Mais do que isso, foi interessante notar como o vinho passou a fazer parte da experiência. Muita gente no festival trocou a cerveja pelo vinho. Alguns compravam no local, outros traziam suas próprias garrafas em coolers.

Durante o período do festival, dividido em dois finais de semana, a cidade vive em função do turismo gastronômico. A movimentação é grande. As pousadas parceiras são ocupadas rapidamente, e a dica é escolher aquelas próximas ao centro, como a Pousada Neuza Barbosa, a cerca de 10 minutos de onde estão as barracas do festival. Estacionar nas áreas próximas ao agito é complicado e mesmo os poucos táxis da região ficam sobrecarregados. Por conta das distâncias não muito grandes, a melhor pedida é justamente caminhar (mas vá preparado, porque as pedras antigas são um charme, mas exigem certo preparo físico).
Visitar o festival é, também, uma oportunidade de conhecer o que a cidade tem a oferecer. Pode ser a culinária local – caso do Chico Doceiro, simpática doceria que é patrimônio tiradentino. Desde 1965 produz doces artesanais, especialmente o canudinho de massa de pastel recheado com doce de leite. Pode ser também a arquitetura e a história da cidade. Vale a pena visitar a Igreja Matriz e assistir aos concertos de órgão – o instrumento foi trazido ao Brasil em 1788 e é um dos mais antigos do país.

O festival atrai visitantes de várias regiões de Minas, mas também do Rio de Janeiro e de São Paulo. Saímos da capital paulista e seguimos rumo ao Estado vizinho – uma viagem de cerca de 7 horas que passa principalmente pela Fernão Dias, mas também pela BR 265, que tem passado por obras de melhoria, mas ainda está longe de ser uma rodovia segura.
Dessa vez, fomos com o Wrangler, o SUV “raiz” da Jeep que já foi analisado aqui, no Pé na Estrada. Embora seja focado em trilhas offroad, se mostrou um valente companheiro na estrada. Seu motor 2.0 turbo de 272 cv têm fôlego de sobra para ultrapassagens, especialmente nos trechos mais complicados nos quilômetros finais até Tiradentes, com a pista simples esburacada e cheia de carretas. E na cidade, especialmente nos trechos do centro histórico com o chão de pedras, a maior altura do solo e suas rodas de 17 polegadas equipadas com pneus de uso misto foram muito úteis.

Vale a pena se programar para visitar Tiradentes no ano que vem. Mas enquanto isso dá para curtir a mesma experiência em outras cidades. Em Belo Horizonte, o festival acontece neste final de semana, 27 e 28 de setembro, no Mirante Belvedere, com participação dos restaurantes Angatu (Tiradentes, MG), Sr. Pork Embutidos e Defumados (Conceição do Mato Dentro, MG), Casulo (Lapinha da Serra, MG), Santa Matula Quintal (São Gonçalo do Rio das Pedras, MG), Quintal de Vó (Serro, MG), Prato de Girassol Gastrobar (Oliveira, MG) e O Gauchão (Bom Jesus do Amparo, MG). A programação completa da edição de Nova Lima será divulgada em breve. Mais informações no site do Fartura.