O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, a quem foi negado visto para participar da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, fez seu discurso por vídeo nesta quinta-feira, 25, da sede de seu partido em Ramallah. Ele rotulou os “crimes contra a humanidade” de Israel na Faixa de Gaza como “genocídio”, afirmou que a guerra no enclave entrará para os livros de história como um dos capítulos mais horríveis do século XXI, conclamou a comunidade internacional a agir contra a ocupação israelense em Gaza e Cisjordânia e pediu a criação de um Estado palestino.
Notadamente, se disse pronto para negociar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem liderando mediações entre Israel e o Hamas, junto ao Egito e o Catar, para o fim do conflito na faixa. Abbas foi deixado de lado das tratativas desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
“O povo palestino em Gaza encara uma guerra de genocídio, destruição, fome e deslocamento travada pelas forças de ocupação israelenses”, declarou ele. “Israel impôs um cerco sufocante a um povo inteiro. Não se trata apenas de uma agressão; é um crime de guerra e um crime contra a humanidade.”
Ao denunciar a expansão de assentamentos judeus pela Cisjordânia, militarmente ocupada por Israel desde 1967, que são considerados ilegais pela comunidade internacional, a autoridade afirmou rejeitar e “deplorar completamente” os planos para uma “Grande Israel”. Abbas pediu o fim do “terrorismo dos colonos” e do “roubo de terras e propriedades palestinas sob o título de anexação”. Como a Cisjordânia, ele reiterou que Gaza é parte integrante do Estado da Palestina.
Governo da Palestina
Abbas também condenou o ataque terrorista liderado pelo Hamas a Israel, afirmando: “Essas ações não representam o povo palestino”. Ele demorou a criticar o grupo palestino — o fez pela primeira vez publicamente em junho deste ano, em uma carta à França e Arábia Saudita, que lideram esforços para a ressurreição da adormecida solução de dois Estados.
A Autoridade Palestina se considera o governo legítimo de um futuro Estado e, além de exigir a retirada israelense de Gaza, seu presidente disse estar pronto para assumir o controle total do enclave com um governo sem a participação do Hamas. Ele defendeu que o grupo deve depor suas armas. “Reiteramos que não queremos um Estado armado”, disse.
Abbas discursou para um público amplamente simpático à sua causa. A guerra em Gaza dominou as falas de líderes mundiais na Assembleia Geral deste ano, e a criação de um Estado palestino foi o centro das atenções em uma conferência organizada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em colaboração com o príncipe saudita, Mohammed bin Salman, na segunda-feira 22.
Dois Estados
Da tribuna, Macron cumpriu o prometido e reconheceu a Palestina como país, no que foi seguido por outros quatro mandatários, somando-se a Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido, cujo mesmo anúncio veio um dia antes. A maioria dos membros da ONU — 147 de 192, incluindo o Brasil — há tempos já apoiava a causa, mas o fato de economias mais ricas em geral, e franceses e ingleses em particular, engrossarem a turma tem seu peso.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ameaçou anexar a Cisjordânia em retaliação aos anúncios. “Vocês estão dando uma enorme recompensa ao terrorismo”, disparou em vídeo publicado no domingo 21. Mas Trump, principal aliado do governo de Israel, garantiu nesta semana que esta seria uma “linha vermelha” e não permitiria que isso acontecesse, segundo Macron.
Há muito que Abbas defende a criação de um Estado independente para seu povo, mas é considerado carta fora pelos Estados Unidos devido a acusações de corrupção e conexões com facções islâmicas em territórios palestinos. Ele atua como presidente da Autoridade Palestina há duas décadas, embora tenha sido eleito para um mandato de apenas quatro anos. Sem nunca convocar eleições, concentrou poder em seu gabinete, afastou rivais e permitiu que as forças de segurança reprimissem seus críticos. Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos palestinos quer sua renúncia.
Ainda assim, as discussões desta semana fizeram a ideia de um Estado palestino avançar algumas casas. Uma solução para o conflito continua distante, porém, uma vez que Israel e os Estados Unidos, que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, se opõem à medida. Os dois países afirmaram que os anúncios de reconhecimento de um Estado palestino eram pouco mais do que teatro político e que teriam efeito mínimo sobre a situação em Gaza.